Estima-se que as perdas produtivas causadas pela competição com plantas daninhas em lavouras de Trigo (Triticum aestivum L.) possam chegar a 40-50% de acordo com as espécie, densidade e tempo de convívio da planta daninha com a cultura (Oad et al. 2007). Portanto, elevada produtividade do trigo passa por um bom manejo de plantas daninhas.
Os herbicidas constituem-se no método mais utilizado para controle de plantas daninhas em cereais de inverno. Porém, o controle químico não deve ser visto como ferramenta única, devendo ser usado outros métodos integrados no controle. A correta escolha do herbicida irá depender de quais alvos deverão ser controlados. Além disso, os herbicidas deverão ser aplicados em momentos adequados em relação ao estágio das plantas daninhas, levando em conta que a eficácia reduz à medida que as plantas daninhas se desenvolvem. Ainda, muitos herbicidas precisam ser aplicados em momentos adequados em relação a cultura do trigo, a fim de evitar problemas com fitotoxidade.
Importância do uso de herbicidas pré-emergentes
O manejo em pré-emergência possibilita que a cultura maximize seu arranque inicial em condições de ausência de invasoras e ganhe, assim, a chamada dianteira competitiva. Herbicidas nesta modalidade possuem atividade residual de durações variadas, controlando invasoras mesmo após a aplicação e permitindo maior flexibilidade na escolha dos herbicidas a serem utilizados em pós-emergência. Além disso, alguns herbicidas usados em pré-emergência possuem mecanismos de ação diferentes dos utilizados em pós-emergentes, auxiliando no manejo e prevenção de resistência.
Opções de herbicidas pré-emergentes para o trigo
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Dentre os diversos herbicidas registrados para uso na cultura do trigo, que somam 16 diferentes ingredientes ativos e 9 mecanismos de ação, apenas um herbicida é registrado para uso na pré-emergência, que é o pendimetalin. No entanto, outros dois herbicidas registrados para uso em dessecação pré-semeadura no trigo, oferecem a possibilidade de controle de invasoras através de atividade residual no solo, como por exemplo o flumioxazin e o saflufenacil.
Tabela 1. Herbicidas recomendados para aplicação em pré-emergência e na dessecação de pré-semeadura para controle de plantas daninhas na cultura do trigo.
O pendimetalin
Mecanismo de ação
O pendimetalin é um herbicida que atua inibindo a formação de microtúbulos, interferindo no processo de divisão celular na planta (Heap, 2016).
Espectro de ação
Este herbicida possui amplo espectro de controle, controlando variadas espécies de plantas daninhas de difícil controle e importantes na cultura do trigo como a beldroega (Portulaca oleracea), a serralha (Sonchus oleraceus), e diversas espécies de gramíneas como o azevém (Lolium multiflorum) (Figura 2A), e o capim carrapicho (Cenchrus echinatus), além de moderada eficiência no controle de nabiça (Raphanus raphanistrum) (Figura 2B).
Seletividade ao trigo
A seletividade ocorre por posicionamento, sendo que o herbicida ocupa a camada superficial do solo (2 a 3 cm) onde as sementes de plantas daninhas concentram-se, de modo que a cultura deve ser semeada abaixo disso (5 cm), para que possa emergir sem que ocorra absorção do herbicida devido à baixa absorção pelo coleóptilo da cultura. Em solos arenosos com baixo teor de matéria orgânica, a ocorrência de chuva intensa logo após a aplicação poderá favorecer para fitotoxidade à cultura.
Ajuste de dose
O uso eficiente de pendimentalin exige ajuste da sua dosagem. Por exemplo, em solos com teores de matéria orgânica acima de 3% ou com elevada pressão de plantas daninhas no banco de sementes, deve-se usar doses mais elevadas, podendo estas chegar a 3,5 L/ha do produto, ante uma dose de 2 L/ha em condições diferentes às mencionadas.
O flumioxazin
Mecanismo de ação
O flumioxazin é um herbicida que atua como inibidor da atividade da enzima protoporfirinogênio oxidase (Protox) no cloroplasto das células da planta. A Protox está presente nas rotas de produção de clorofila e carotenóides. Quando inibida, induz à morte das células devido a produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) sob a presença de luz, as quais causam peroxidação de lipídios, rompendo as membranas celulares e causando sua ruptura. Estes produtos possuem ação rápida e translocação limitada na planta, agindo primariamente por contato e, portanto, o uso eficiente depende de boa cobertura da planta daninha.
Espectro de ação
O flumioxazin é registrado para uso em dessecação pré-semeadura do trigo. Porém sua atividade residual pode proporcionar controle de espécies de folhas largas como a buva (Conyza spp) (Figura 3), além do azevém, espécies invasoras de extrema importância na cultura do trigo.
Seletividade ao trigo
A seletividade se dá também por posicionamento (seletividade física), não podendo o produto ser aplicado após emergência do trigo. O uso destes produtos requer a adição de óleo mineral emulsionável ou adjuvante não-iônico para melhor penetração pela cutícula foliar das plantas daninhas. É importante que seja aplicado em estádios de planta jovem, com por exemplo a buva, em estádio de 6 e 8 folhas. O flumioxazin pode oferecer controle ainda sobre nabiça, capim-colchão ou milhã (Digitaria horizontalis), junça (Cyperus iria L.), corda-de-viola ou corriola (Ipomoea spp.), dentre outras (Lorenzi, 2006).
O saflufenacil
Mecanismo de ação
O saflufenacil também é um herbicida que atua inibindo a atividade da enzima Protox, assim como o flumioxazin.
– Espectro de ação: Também como mencionado acima, este herbicida possui registro para uso em dessecação pré-semeadura e possui atividade residual, o que permite controle eficiente de espécies de folhas largas como o apaga-fogo (Alternanthera tenella), corda-de-viola ou corriola (Ipomoea grandifolia) e o picão-preto (Bidens pilosa L.). Espécies como a corda-de-viola e a buva são sensíveis em qualquer estágio, já o controle de outras espécies deve se realizado quando estas se encontram em estágio inicial de desenvolvimento. Salienta-se que o saflufenacil possui ação somente sobre espécies de folhas largas, recomendando-se a adição de herbicidas para controle de folhas estreitas ao programa de manejo.
Seletividade ao trigo
A seletividade também se dá por posição, não devendo ser aplicado após a emergência do trigo. O uso do saflufenacil em pós-emergência das plantas daninhas durante a dessecação pré-semeadura exige a adição de adjuvante não-iônico para melhorar a absorção.
Considerações finais
Consulte sempre um Engenheiro Agrônomo e leia atentamente a bula dos produtos antes do uso. E lembre-se, um bom manejo de plantas daninhas inclui a utilização de herbicidas com diversos mecanismos de ação visando evitar o surgimento de resistência. Além disso, considerar o uso de diversas estratégias adicionais ao controle químico dentro de um programa integrado.
Referências Bibliográficas
Heap I (2016) The international survey of herbicide-resistant weeds. Disponível em www.weedscience.org.
Lorenzi H (2006) Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 6a edição. Nova Odessa, SP – Instituto Plantarum.
Oad FC, Siddiqui MH, Buriro UA (2007) Growth and Yield Losses in Wheat Due to Different Weed Densities. Asian Journal of Plant Sciences 6: 173-176.