O trigo (Triticum aestivum), pertencente à família das Poaceaes, é uma das principais culturas do mundo. O trigo é utilizado para consumo humano e animal (NETO & SANTOS, 2017). No processo de moagem do trigo, as proteínas armazenadas no endosperma são fundamentais para a formação e estruturação do glúten para a fabricação de pães, massas alimentícias, bolos, biscoitos, dentre outros.
Resistência de germinação na espiga
A germinação pré-colheita de trigo é hoje um dos fatores importantes a serem superados na triticultura (PIRES et al., 2011). A germinação pré-colheita é a germinação dos grãos ainda na espiga, antes de serem colhidos, acarretando diminuição na qualidade e na produtividade (OKUYAMA et al., 2017). De acordo com RIGATTI et al. (2019) e ZHANG et al. (2017), a germinação pré-colheita causa danos ao trigo devido ao seu impacto negativo na produção e na qualidade do uso final, diminuindo o rendimento entre 6% a 10%, e o valor de comercialização pode ser reduzido em até 50%.
Quando e como ocorre a germinação pré-colheita em trigo?
A ocorrência da elevada precipitação e temperatura no momento da colheita são os principais fatores que resultam na quebra de dormência da semente. Esse processo dá início ao processo de germinação, marcado pela embebição de água, reativação de organelas e macromoléculas preexistentes e a respiração de reservas, gerando ATP (adenosina trifosfato) como fonte de energia para o desenvolvimento do embrião. O hormônio essencial para quebra da dormência são as giberelinas, que no processo metabólico da germinação das sementes vão promover a síntese da enzima hidrolítica amilase, responsável pela degradação do amido (CARVALHO & NAKAGAWA, 2012).
Como evitar perdas de germinação pré-colheita?
Além dos fatores de ambiente, vários fatores morfológicos e genéticos das cultivares contribuem para que ocorra o processo de germinação antes a colheita, incluindo dormência de sementes, atividade da enzima alfa amilase, características da espiga, cor dos grãos e inibidores de germinação presentes nas glumas, pálea e lema (BI et al., 2014).
Por isso, deve-se priorizar cultivares com maior resistência, e observar a frequência de chuvas da região no período de colheita (Figura 1). As cultivares com maior resistência tem relação com as características morfológicas da planta, como a capacidade de reter ou não a umidade na espiga e o nível de dormência que a semente vai apresentar. Estes aspectos estão relacionados às características específicas de cada cultivar.
Informações de cada cultivar podem ser encontradas nas Informações Técnicas para Trigo e Triticale, disponíveis em https://www.reuniaodetrigo.com.br.
Referências
BI, H. H.; SUN, Y. W.; XIAO, Y. G.; XIA, L. Q. Characterization of DFR allelic variations and their associations with pre-harvest sprouting resistance in a set of red-grained Chinese wheat germplasm. Euphytica, v. 195, n. 2, p. 197-207, 2014.
CARVALHO, NM; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. Funep, 5ed., 2015. 590p.
NETO, A. A. O., SANTOS, C. M. R. A cultura do Trigo. Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), vol 1, 2017. p.218. Disponível em: 17_04_25_11_40_00_a_cultura_do_trigo_versao_digital_final.pdf (conab.gov.br)
OKUYAMA, L. A.; JUNIOR, N. F.; CARAMORI, P.; KOHLI, M. Pre-harvest sprouting assessment in wheat genotypes influenced by temperature and degree days. Experimental Agriculture, p. 1-8, 2017. http://dx.doi.org/10.1017/S0014479717000114
PIRES, J. L. F.; VARGAS, L.; DA CUNHA, G. R. Trigo no Brasil: bases para produção competitiva e sustentável. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2011. 488 p.
RIGATTI, A. et al. Grain yield and its associations with pre-harvest sprouting in wheat. Journal of Agricultural Science, v. 11, n. 4, p. 142-150, 2019.
ZHANG, Yingjun; XIA, Xianchun; HE, Zhonghu. The seed dormancy allele TaSdr-A1a associated with pre-harvest sprouting tolerance is mainly present in Chinese wheat landraces. Theoretical and Applied Genetics, v. 130, n. 1, p. 81-89, 2017.
Autores
Dr. Daniela Meira
Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria (2016). Mestre em Agronomia pelo Programa de Pós-Graduação em Agronomia, Agricultura e Ambiente da Universidade Federal de Santa Maria (2018). Doutora em Agronomia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2022). Docente do Curso de Engenharia Agronômica do Cesurg – Sarand