Os problemas de estabelecimento de plantas em lavouras de soja têm sido algo recorrente safra após safra, em várias regiões do Brasil. Muitos desses problemas são devido a ocorrência de podridão de sementes, morte de plântulas e podridões radiculares, causadas por fungos de solo ou veiculados pelas sementes de baixa qualidade. O impacto desses problemas é a redução de estande e de vigor de plantas, afetando negativamente a produtividade das lavouras. Muito provavelmente, o baixo vigor e qualidade fisiológica das sementes utilizadas foi determinante para que a situação fosse agravada. Infelizmente o estado do RS apresenta um índice de utilização de sementes certificadas muito pequeno (em torno de 30%). Tendo em vista que a utilização de sementes “salvas” é uma prática comum no estado, problemas no armazenamento e danos em função de umidade e insetos, são algumas das causas prováveis dessa baixa qualidade fisiológica e sanitária das sementes. No RS, em vários dos casos na última safra, houve a necessidade de replantio das lavouras, o que impactou no aumento de custos de produção. Além disso, muitos produtores, por não conseguirem entrar nas áreas, tiveram atraso da época ideal para semeadura, com penalizações no potencial produtivo das lavouras.
Dentre os fatores que afetam a qualidade da emergência e crescimento inicial de plantas, muitos estão na mão do produtor, como o uso de sementes de qualidade, a operacionalização de uma boa prática de semeadura e o investimento em maior qualidade física, química e biológica do solo. Otimizando e ajustando esses fatores de manejo, o produtor poderá minimizar os problemas com as adversidades climáticas, as quais ele não tem o controle. A proteção inicial da emergência com o uso de fungicidas em tratamento de sementes é prática fundamental, porém, é de grande importância a realização da patologia das sementes para que se consiga identificar quais patógenos estão presentes no lote e em quais percentuais. Temos diversas opções de fungicidas adequadamente formulados para uso em tratamento de sementes, sendo que o uso de produtos não recomendados para essa modalidade pode comprometer a eficácia de controle e causar fitotoxidade nas plantas.
Diversas espécies de fungos podem estar relacionadas aos problemas de emergência, tais como: Phytophthora sojae; Pythium spp.; Fusarium spp., Rhizoctonia solani, Phomopsis sojae e Colletotrichum truncatum. Muitos desses patógenos, além de causar problemas de estabelecimento, se não forem controlados eficientemente, podem causar doenças em parte aérea de plantas adultas. É o caso da Phytophthora sojae, a qual pode infectar a cultura em qualquer estágio, desde que ocorram condições favoráveis.
Os principais fatores ambientais ocorridos na safra 2018/19 que favoreceram o ataque de fungos foram o excesso de umidade e as baixas temperaturas do solo, fato que deve se repetir nessa safra, se forem confirmados os proguinósticos climáticos. Associado a esses fatores, áreas que apresentavam baixa capacidade de infiltração (solos compactados) tiveram problemas mais recorrentes, especialmente com os oomicetos de solo, Phytophthora sojae e Pythium spp. que são muito favorecidos pelo excesso de água no solo. A baixa temperatura do solo causa atraso na emergência das plântulas, o que torna as mesmas mais vulneráveis à infeção pelos fungos. A proteção proporcionada pelo tratamento de semente é relativamente curta, em torno de 12 a 14 dias. Nesse sentido, não podemos depositar toda a responsabilidade de proteção inicial sobre os fungicidas, e sim pensar em estratégias que possam contribuir para um estabelecimento inicial satisfatório.
Além dos problemas iniciais em função da baixa qualidade sanitária e fisiológica das sementes, é necessário considerar a semente contaminada, como inóculo inicial para manchas foliares e antracnose, principalmente. O início cada vez mais precoce do surgimento das manchas na área foliar da lavoura, causada por patógenos necrotróficos, tem como um dos pontos fundamentais a transmissibilidade pela semente contaminada. Assim, o sucesso de todo o programa de aplicações a ser realizado na área foliar está condicionado a um tratamento de sementes assertivo, que reduzirá a quantidade de inóculo inicial a ser transmitida para a planta.
Por fim, é importante reforçar que a semente é o insumo mais importante da lavoura e é nela que estarão contidas características genéticas determinantes para resistência à doenças, pragas, produtividade, etc. Além disso, a construção do manejo eficiente de doenças inicia na escolha do tratamento de sementes adequado para redução do inóculo inicial, muitas vezes introduzido na lavoura pela semente contaminada, assim como a obtenção de plântulas vigorosas, com desenvolvimento radicular satisfatório que irá propiciar um arranque inicial melhor, além de “diluir” o dano em função de patógenos radiculares e nematoides.