O efeito de fosfitos no controle de doenças é bem descrito e bem documentado em diversos trabalhos. As propriedades antifúngicas dos fosfitos foram descobertas por volta da década de 1970, em estudos com o Fosetyl-Al que apresentava significativo efeito sobre oomicetos, especialmente a requeima da batata (Phytophthora infestans). Assim, os melhores resultados do uso desses compostos são verificados no controle de oomicetos.
A ação dos fosfitos sobre oomicetos consiste na inibição do crescimento, ou seja, não necessariamente pode levar o pseudo fungo a morte, mas um efeito fungistático, que inibe o seu crescimento. Além disso são descritos efeitos sobre o metabolismo dos fungos, supressão da germinação e esporulação desses.
Essa ferramenta pode ser encarada como uma estratégia a ser inserida dentro do manejo integrado de doenças.
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Mecanismos de ação contra fitopatógenos
O efeito dos fosfitos no controle de doenças em plantas baseia-se em dois mecanismos de ação. (i) o primeiro é com base na ação tóxica direta sobre o patógeno, reduzindo o crescimento desse; (ii) o segundo é com base no mecanismo indireto no qual o fosfito é capaz de induzir respostas de defesas na planta.
Ação tóxica direta aos patógenos
Acredita-se que o efeito direto de fosfito sobre patógenos se dá através de três principais mecanismos:
- Fosfitos podem causar acúmulo de polifosfato inorgânico nas células fúngicas, o qual inibe reações de fosforilação essenciais no crescimento do fungo (Niere et al., 1994)
- Fosfitos podem inibir a atividade de enzimas chave no patógeno (Griffith et al., 1990) e competir por sítios de ligação de fosfato e por isso inibir reações químicas importantes a sobrevivência do patógeno (Barchietto et al., 1992)
- Acúmulo de fosfito na célula pode alterar a síntese de nucleotídeos e o metabolismo da pentose fosfato e consequentemente causar alterações na síntese de DNA (Barchietto et al., 1992)
Mecanismo indireto como indutor de defesa em plantas
Os mecanismos de defesa indiretos estão relacionados com a elevação das atividades de inúmeras enzimas que dão origem à síntese de diversos metabólitos secundários, antimicrobianos, produzidos pelas plantas frente ao ataque de patógenos (Pascholati & Leite, 1995). Entre esses mecanismos, destacam-se (Cavalcant al., 2006; Moor et al., 2009):
- Aumento da atividade de proteínas relacionadas a patogênese (PRPs) como quitinases, ?-1,3-glucanases, fenilamonialiase, lipoxigenases). Estas proteínas podem degradar constituintes da parede celular dos fungos e afetar seu crescimento
- Aumento na síntese de fitoalexinas e compostos fenólicos que podem suprimir o crescimento de patógenos
- Aumento na síntese de polissacarídeos como a lignina, que ao ser depositada na parede celular de células da planta, promove um efeito mecânico na proteção contra a invasão do patógeno
- Aumento de outros processos enzimáticos e não-enzimáticos relacionados com o sistema antioxidativo das plantas e melhorias na tolerância a situações de estresse
Qual o momento de aplicação em relação a doença?
É necessário um tempo hábil para que as respostas nas plantas sejam ativadas e que se tenha um bom efeito sobre a doença.
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Assim, os melhores resultados são obtidos com aplicações antecipadas à doença, de forma a deixar a planta mais preparada para enfrentar o patógeno que virá depois. Aplicações de indutores em estágios mais avançados da planta, com muita doença estabelecida, tem grande probabilidade de insucesso.
Outro ponto importante é que as respostas na planta, uma vez ativadas, não serão permanentes até o final do ciclo. Assim, em muitos casos, serão necessárias mais de uma aplicação do indutor, para que as respostas sejam novamente ativadas e o efeito da indução prorrogado por mais tempo.
Os resultados da ativação de defesas serão muito dependentes do estado nutricional e fisiológico das plantas. Não se pode tentar ativar defesas em plantas que não estão aptas a se defender eficientemente. A ativação de defesas envolve rotas bioquímicas que demanda nutrientes e gasto de energia. Assim, resultados positivos serão esperados pela aplicação em plantas bem nutridas, plantas com estado fisiológico adequado, na ausência de estresses.
Usos desses compostos na agricultura
É amplamente descrito que esses compostos possuem maior eficiência no controle de doenças causadas por oomicetos, como por exemplo Phytophthora, Pythium, Peronospora, Plasmopara, Pseudoperonospora, Bremia, etc. Cook et al., 2009; Fenn e Coffey, 1984; Forster et al., 1998; Grant et al., 1992; Guest et al., 1995; Jackson et al., 2000; Jee et al. 2002; Smillie et al., 1989; Wilkinson et al., 2001; Speiser et al., 2000. Silva et al. (2011) observaram redução na intensidade do míldio da soja (Peronospora manshurica) em condições de campo com o aumento da dose de uma formulação de fosfito de potássio. Alguns resultados positivos, também em soja, indicam reduções nos danos causados por Phytophthora sojae.
Por outro lado, em alguns cenários, frente a outros alvos, os resultados podem não ser tão expressivos. Estudos com fosfito de potássio visando controle de ferrugem-da-soja (Phakopsora pachyrhizi), por exemplo, não geraram dados tão consistentes. Isso pode ter ocorrido em função da elevada pressão dessa doença nas safras trabalhadas e em função de ser um fungo biotrófico de elevada taxa de progresso.
O uso de fosfitos é uma alternativa importante a ser pensada para agregar no manejo integrado de doenças, sendo que é muito importante que se preconize qual o alvo em questão, o posicionamento assertivo, o tipo de fosfito e o estado nutricional e fisiológico das plantas. Tais ferramentais podem ser pensadas em associação ao programa fungicida de maneira a contribuir para um controle mais eficiente das doenças.
O caso específico do fosfito de cobre
No caso específico do fosfito de cobre, o cátion cobre, quando liberado na planta, pode apresentar ação tóxica direta sobre o patógeno e incrementar no controle de doenças. O cobre pode também promover alguma supressão contra infecções por bactérias nos tecidos da planta e promover algum benefício no controle de doenças bacterianas. Porém, a quantidade de cobre liberada nos tecidos a partir do fosfito é pequena, e por isso os fosfitos de cobre não devem ser encarados como fungicidas cúpricos, porque essa concentração de cobre liberada é bem inferior a um fungicida cúprico propriamente dito.
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