Considere que o que representa a sucessão familiar no campo é a conjuntura inerente a ela. Muito bem, você pode se perguntar de que forma ocorre na família?
Os estudos de Gasson e Errigton (1993, apud Debesaitis, 2013) destacam quatro formatos de sucessão familiar. Vejamos eles:
- O filho sucessor reside em estabelecimento separado do pai e desenvolve sua própria forma de gestão, sendo responsável pelo processo de decisão de maneira independente.Ele assume o empreendimento do progenitor quando necessário;
- O filho sucessor constitui estabelecimento separado do pai, mas com certa dependência nos processos de negócio;
- O filho reside com os pais e trabalham em forma de parceria. Suas responsabilidades aumentam ao longo do tempo, sendo a tomada de decisão de determinadas tarefas em comum acordo com o pai;
- O filho reside com o pai e tem pouca participação nas decisões, assumindo as responsabilidades como sucessor em caso de morte ou invalidez do progenitor.
Invariavelmente, todos os formatos destacados possuem estágios diferentes, que vai da iniciação do(s) filho(s) nas atividades, até a efetiva conclusão da sucessão. Portanto, a sucessão na agricultura deve ser vista como um “fluxo” de três tempos (passado, presente, futuro), onde se é possível trabalhar mais de uma geração ao mesmo tempo e, dessa forma, obter melhores resultados
(PLOEG, 2008; KISCHENER; KIYOTA; PERONDI, 2015).
No caso das pequenas propriedades rurais, que são a maioria, a inserção do sucessor nas atividades é direta, porém a tomada de decisão concentra-se na figura do progenitor (SCHUCH, 2010). Essa relação é complexa e pode, quando não transparente e pautada em diálogo, causar o êxodo do jovem sucessor.
Moraes (2011) destaca que, principalmente em pequenas propriedades, os fatores intangíveis, culturais, familiares, no inconsciente coletivo social, influenciam mais na decisão do jovem na agricultura e na sustentabilidade do empreendimento familiar do que a falta de recursos financeiros, tecnologia, terras, água, trabalho ou mercado.
Steele (2016) aponta cinco formas da geração atual apoiar o sucessor. São elas:
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- Planejamento com antecedência;
- Enfatizar a oportunidade, não a obrigação;
- Criar oportunidade para construção de empreendimento paralelos;
- Compreender quando é o momento de se afastar;
- Cuidar da governança familiar.
A família precisa entender que a propriedade se trata de um empreendimento, o qual é gerador de emprego e renda para os membros da família. Para tanto, é necessário estar ciente de que sua continuidade depende também de investimentos em inovações, cujo resultado é o despertar do interesse no jovem em continuar o empreendimento, bem como estruturar os processos organizacionais para manter o sucessor motivado a profissionalizar-se e profissionalizar o empreendimento (RURAL NEWS, 2015).
Não podemos esquecer que esse processo é transitório, mas indispensável! Tendo melhores resultados com a presença do atual detentor da empresa (dono), sua vivência à frente do negócio poderá ser compartilhada e desenvolvida com o sucessor.
REFERÊNCIAS
DEBESAITIS, E. Idas e vindas ao meio rural: Sucessão familiar. 2013. (Faculdade de Ciências Econômicas). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Três Passos, 2013.
MORAES, A.M.X. Onde concentrar os esforços para a permanência do jovem no campo?. Revista Sustentabilidade do Campo, Rio de Janeiro, nº2, jul/2011.
RURAL NEWS. Sucessão rural: o futuro da propriedade em jogo. Disponível em:
SCHUCH, Heitor José. Juventude Rural: a roça em transformação. Porto Alegre: Corag, 2010.
STEELE, S. Cinco formas como a geração atual pode apoiar a próxima. 2016. IN.: Pesquisa Global sobre Empresas Familiares 2016. FWC, 2016. Disponível em
PLOEG, J.D. Camponeses e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globalização.Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. Disponível em: