A cultura da soja tem sofrido frequentes perdas, decorrentes do ataque de fitonematoides. Esses microrganismos são especializados em se alimentar do sistema radicular, interferindo diretamente nos processos fisiológicos da planta, comprometendo o desenvolvimento vegetativo e consequentemente o reprodutivo.
– Espécies;
– Sintomas;
– Erradicação;
– Pesquisa sobre fitonematoides em áreas do RS;
Espécies
As principais espécies associadas à diminuição da produtividade da cultura da soja são os nematoides formadores de galhas (Meloidogyne javanica e M.incognita), o nematoide do cisto da soja (Heterodera glycines), o nematoide das lesões radiculares (Pratylenchus brachyurus) e o nematoide reniformis (Rotylenchulus reniformis).
Atualmente, estas espécies encontram-se amplamente distribuídas no país, principalmente em áreas com o cultivo de soja. Na região central do Brasil, a ocorrência e distribuição desses fitonematoides encontram-se bem mapeadas, através de levantamentos realizados por pesquisadores. Embora difícil mensurar, os danos causados por essas espécies apontam perdas na ordem de 10-50%, podendo ser alterado devido a fatores bióticos e abióticos.
Sintomas
Os sintomas nas raízes das plantas infectadas por fitonematoides podem variar, desde o engrossamento, galhas, diminuição no volume e crescimento e, em alguns casos, a destruição, comprometendo o funcionamento fisiológico da planta. Na lavoura, os sintomas ocorrem em manchas ou reboleiras, formadas por plantas amarelecidas, seguidas de crescimento irregular.
Erradicação
A erradicação ou eliminação dessas espécies, quando estabelecidas em áreas de cultivo, torna-se inviável, em função do alto custo de controle. Deve-se optar por medidas combinadas que possibilitem a manutenção das populações próximas ou abaixo do limiar de dano econômico. Um dos grandes fatores que tem contribuído para o aumento dos problemas com fitonematoides, deve-se ao desconhecimento por parte dos produtores. Assim, os sintomas da ação dos nematoides no sistema radicular acabam sendo creditados a outras injúrias de ordem biótica ou abiótica, comprometendo a produção em curto espaço de tempo.
Pesquisas sobe fitonematoides em áreas do RS
Pensando em obter informações sobre a ocorrência de fitonematoides associados à cultura da soja na região sul do país, o Instituto Phytus realizou coletas em alguns municípios da região.
– Resultados
Os resultados obtidos evidenciaram a presença de quatro espécies capazes de causar danos na cultura da soja: nematoide formador de galha (Meloidogyne javanica), o nematoide do cisto da soja (H. glycines), o nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus), e o nematoide reniformis (R. reniformis). Os destaques são as duas primeiras espécies, pois apareceram com mais frequência sobre níveis elevados nas amostras de solo e raiz.
O nematoide das lesões radiculares (P. brachyurus) esteve presente na maioria dos municípios amostrados em níveis baixos e médios. Este nematoide está amplamente distribuído em regiões de climas tropicais e subtropicais, devido ao seu alto grau de polifagia (habilidade de parasitar e reproduzir-se em um elevado número de plantas). Na região do Mato Grosso, a incidência desse nematoide em levantamento causou redução na produtividade de 30-50% em áreas infestadas realizado (Ribeiro et al, 2010).
Em apenas um dos municípios amostrados foi observada a presença do nematoide R. reniformis. A área, utilizada para cultivo de soja e gramíneas de inverno em rotação, superou a densidade populacional de 7.000 indivíduos (ovos+jovens+adultos).200 cm-³ de solo. Este foi o primeiro registro da ocorrência desse nematoide na região sul do país. Cabe salientar, a capacidade de adaptação dessa espécie a diferentes tipos de solos e a habilidade de entrar em anidrobiose (mecanismo fisiológico que induz o nematoide a reduzir drasticamente o metabolismo, permanecendo em estado de quase ametabolismo) em condições ambientais desfavoráveis para sua sobrevivência. É relatado que a principal espécie atacada por R. reniformis é o algodão, porém, nos últimos anos, vários estudos apontam frequentes danos em soja.
– Cuidados
Estes organismos, mesmo que ocorram em baixa e média densidade populacional, são especializados em alimentar-se diretamente das raízes e podem rapidamente aumentar sua população no solo, em um curto período de tempo.
O cuidado deve ser ainda maior se o cultivo de variedades de soja suscetível for precedido de outra cultura que permita a alimentação e reprodução desses nematoides.
A utilização de culturas hospedeiras aos nematoides em sucessão ou em rotação favorece o estabelecimento ou o agravamento dos problemas em determinadas áreas. Em alguns casos, o principal aspecto percebido pelo produtor, e não creditado à presença de nematoides, é o declínio na produtividade.
Os sintomas são, em muitos casos, creditados à compactação do solo, deficiência nutricional, mancha de calcário, encharcamento ou até mesmo a outro complexo de patógenos (fungos, bactéria, vírus entre outros).
A falta de conhecimento dos produtores sobre a presença dos nematoides ajuda na sua disseminação, principalmente através da mecanização da área. De certa forma, os maquinários movimentam o solo, carreando partículas aderidas às rodas e latarias, introduzindo nematoides em outras áreas.
– Diagnose
Para a diagnose, os sintomas clássicos expressos na parte aérea geralmente são resultado do severo ataque no sistema radicular, estes normalmente comprometem os processos de absorção e translocação de água e nutrientes pela planta. O crescimento irregular, o amarelecimento nas folhas, murchamento em períodos quentes e secos do dia e quedas prematuras de folhas, caracterizam-se como os princípios norteadores para diagnose, podendo variar de acordo com a espécie.
– Sintomas causados pelo nematoide do cisto da soja Heterodera glycines
Este nematoide foi detectado no Brasil, na safra 1991/92 e atualmente está presente em vários estados (MG, MT, MS, GO, SP, PR, RS, BA, TO e MA). No Brasil já foram encontradas 11 raças do NCS (1, 2, 3, 4, 4+, 5, 6, 9, 10, 14 e 14+). O nematoide do cisto da soja é responsável por perdas na ordem de 10 a 30%. No entanto, dependendo do tipo de solo e da densidade populacional, podem atingir até 70%. No Rio Grande do Sul, as raças 3, 5 e 6 já foram encontradas em 3 municípios, por Dias et al (2009).
Sob o ataque desse nematoide as plantas apresentam o porte reduzido, seguido de amarelecimento na parte aérea. Em casos de alta densidade populacional no solo, estes sintomas podem ser ainda mais severos (Figura 1).
Ao observar esses sintomas o produtor deve arrancar de 3-7 plantas dentro das manchas (reboleiras) e analisar o sistema radicular, de preferência em cultivos com 25-45 dias após a semeadura. Em áreas infestadas, poderão ser observadas as fêmeas de H. glycines em estádio de desenvolvimento na superfície das raízes de soja, com uma coloração esbranquiçada (Figuras 2 e 3).
A observação direta do sistema radicular, entre 25-45 dias após a semeadura, deverá ser bem mais cuidadosa, pois com o passar do tempo, o nematoide completa seu ciclo de vida e ocorre o escurecimento do cisto (Figura 4). Nessa fase o cisto se desprende da raiz no momento do arranquio das plantas. Cada cisto pode armazenar cerca de 100 a 300 ovos, garantindo a sobrevivência do nematoide por aproximadamente 8 anos no solo.
– Sintomas causados pelos Nematoides de galha Meloidogyne spp
Várias são as espécies do gênero Meloidogyne capazes de causar danos à cultura da soja, as mais frequentes são: M. javanica e M. incognita e M. arenaria. A espécie M. javanica possui ampla gama de plantas hospedeiras, sendo a maioria de importância econômica, como: soja, milho, feijão, batata, cenoura, tomate, cana-de-açúcar, fumo. Os danos decorrentes do parasitismo desses nematoides dependem do nível populacional da área, associados à suscetibilidade da cultura e condições climáticas favoráveis. As perdas normalmente estão entre 10-30% da produção e dependendo da cultura podem chegar a 90%.
O sintoma do ataque desse nematoide normalmente ocorre em reboleiras que, muitas vezes, passam despercebidos, pois a diminuição de vigor e produtividade ocorrem lentamente. Alguns sintomas, que a planta expressa sobre o ataque desse microrganismo, podem ser identificados pelo produtor, como um leve subdesenvolvimento (tamanho desigual de plantas), seguido de um amarelecimento da parte aérea. Pode facilmente ser confundido por deficiência nutricional e as folhas podem apresentar manchas cloróticas e necrose entre as nervuras, conhecidos como folha “carijó”. Em alguns casos, pode ocorrer queda das folhas e, em períodos mais quentes do dia, pode ocorrer o murchamento na parte aérea.
Os sintomas diretos no sistema radicular ocorrem como galhas (Figura 7), dando aspecto tumoral, com engrossamentos anormais, bem visíveis. Através do corte transversal na região das galhas pode-se observar as fêmeas de coloração branca (Figura 8). Cada fêmea produz em torno de 200 – 400 ovos por ciclo completo na cultura, parte dos ovos são depositados em uma massa mucilagionosa que garantem a sobrevivência, por aproximadamente 6 meses a 1 ano no solo.
É importante frisar que em algumas plantas, como milho, arroz, cana-de-açúcar, trigo, entre outras, esses sintomas podem ser ausentes ou bem reduzidos e de difícil visualização. De maneira geral, o parasitismo de Meloidogyne pode causar a espoliação de nutrientes durante sua alimentação, a redução na eficiência da absorção de água e nutrientes pela planta, uma alteração no crescimento das raízes e até mesmo a destruição dos tecidos.
– Medidas gerais para o manejo de nematoides
O sucesso do manejo de fitonematoides passa pela identificação e quantificação das espécies presentes na área. O manejo e controle de fitonematoides não é tarefa fácil, pois depende do nível de infestação, espécie, exigindo adoção de medidas de controle diferentes. De maneira geral, a rotação ou sucessão com plantas não hospedeiras ou a utilização de hospedeiras desfavoráveis, com baixo FR (fator de reprodução do nematoide), associadas a temperaturas inferiores a 12°C, podem reduzir a densidade populacional do nematoide no solo. A utilização de cultivares resistentes, plantas antagonistas e a aplicação de produtos químicos e biológico, via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, formam o complexo de ferramentas, com grande potencial de utilização no manejo, que quando somados podem apresentar resultados ainda mais satisfatórios.