A área cultivada com algodoeiro vem crescendo expressivamente nos últimos anos. Em paralelo a esse cenário, os problemas fitossanitários também têm acompanhado esse ritmo de crescimento. Um dos principais grupos de microrganismos capazes de impactar diretamente na produtividade do algodoeiro tem sido os nematoides parasitos de plantas. No Brasil, as principais espécies ocorrentes são: os nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita), nematoide-reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus) (Figura 1).
Dentre essas espécies, M. incognita (altamente agressivo à cultura) e P. brachyurus são os mais disseminados, relatados em praticamente todas as regiões produtoras do Brasil. Isto muito se deve à capacidade de ambas espécies em parasitar um número elevado de plantas hospedeiras, a exemplo, culturas de relevância econômica e que, por vezes, são utilizadas nas sucessões de safra com o algodão, como a soja, o milho e o feijão. Já o nematoide-reniforme tem sido relatado com maior frequência no estado do Mato Grosso, onde seus danos têm sido expressivos para a cultura.
O manejo das nematoses envolve um conjunto integrado de estratégias, devendo ser planejada previamente à instalação da cultura. Portanto, é importante conhecer o histórico da área, para que as medidas se tornem mais eficientes. Dentre as táticas, as mais utilizadas na cultura são: utilização de cultivares resistentes, quando disponíveis; rotação de culturas; nematicidas químicos e biológicos, utilizados em sulco de semeadura ou tratamento de sementes. Como são patógenos de solo, o uso de produtos químicos e/ou biológicos é uma medida válida, pois atua nos estádios iniciais do desenvolvimento da cultura, promovendo tanto a proteção das primeiras raízes em desenvolvimento, quanto a penetração dos nematoides, contribuindo assim, para um bom desenvolvimento das plântulas com uma menor população de nematoides no fim do ciclo da cultura.
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O uso dessa estratégia de manejo é distinto para cada gênero dos nematoides, podendo, em alguns casos, o mesmo nematicida ser utilizado para mais de uma espécie de nematoide. No tocante a isso, cabe salientar que, conhecer a(s) espécie(s) presentes na área é mais importante do que a escolha do nematicida, pois esta informação é crucial para o sucesso no manejo a médio e longo prazo.
O tratamento químico tem apresentado respostas significativas de controle, podendo reduzir a densidade populacional do nematoide em cerca de 70%. Os principais nematicidas registrados no Brasil são à base de abamectina, terbufós, imidacloprid, thiodicarb, fluopyram, fenamifós, fluensulfona, cadusafós em algumas associações (Tabela 1).
Em relação aos nematicidas biológicos, as bactérias do gênero Bacillus spp. têm apresentado um elevado potencial, dentre elas: Bacillus firmus e B. amyloliquefaciens para controle de M. incognita, e B. subtilis para P. brachyurus e R. reniformis, podendo reduzir as densidades populacionais em cerca de 50% (Tabela 1). É importante ressaltar, que pela polifagia (capacidade de parasitar várias culturas) do M. incognita e do P. brachyurus, a quantidade de nematicidas biológicos utilizados em outros patossistemas é relativamente vasta. Entretanto, as possibilidades não foram compreendidas profundamente na cultura do algodoeiro, muitas vezes levando em consideração apenas o alvo/nematoide.
Portanto, apesar das várias opções de produtos no mercado, a utilização dessas ferramentas no manejo de fitonematoides na cultura do algodoeiro, em hipótese alguma, deve ser considerada como uma estratégia de caráter imediatista (que irá resolver o problema em uma única utilização e/ou aplicação), pois, se tratando deste grupo de microrganismos, o manejo deve ser construído numa escala a médio e longo prazo, devido à impossibilidade de erradicação. Por fim, a utilização dessas importantes ferramentas (químicas e biológicas) deve considerar o manejo integrado, através do uso de cultivares de algodão resistentes (quando disponíveis) ou com baixo fator de reprodução/multiplicação (FR), rotação de culturas com plantas não hospedeiras e, se possível, a utilização de plantas antagonistas.
Bibliografias consultadas:
FASKE, T. R.; STARR, J. L. (2006) Cotton root protection from plant-parasitic nematodes by abamectin-treated seed. Journal of Nematology, 39: 27-30.
GALBIERI, R. et al. (2016) Nematoides fitoparasitas do algodoeiro nos cerrados brasileiros: Biologia e medidas de controle. Instituto Mato-grossense de Algodão, Número 03. 340 p.
HIGAKI, W. A. (2012) Bacillus subtilis e abamectina no controle de Rotylenchulus reniformis e Pratylenchus brachyurus e alterações fisiológicas em algodoeiro em condições controladas. Dissertação de Mestrado – Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente. 44 p.
KUBO, R. K.; MACHADO, A. C. Z.; OLIVEIRA, C. M. G. (2012) Efeito do tratamento de sementes no controle de Rotylenchulus reniformis em dois cultivares de algodão. Arquivos do Instituto Biológico, 79: 239-245.
MACHADO, A. C. Z.; MATTEI, D.; MARINI, P. M.; DADAZIO, T.; NAMUR, F. M. (2013) Efeito de Votivo (Bacillus firmus) utilizado via tratamento de sementes no controle de Meloidogyne incognita em algodoeiro. In: XXXI Congresso Brasileiro de Nematologia, Cuiabá, MT. Resumos. 61 p.