As espinosinas são moléculas com ação inseticida extraídas a partir de uma bactéria de solo chamada Saccharopolyspora spinosa pelo processo de fermentação. São exemplos de espinosinas atualmente utilizadas no Brasil o espinetoram e o espinosade.
O espinetoram tem sido amplamente utilizado na cultura da soja e milho no controle de lagartas do gênero Helicoverpa, Spodoptera, Chrysodeixis e Heliothis.
Já o espinosade é utilizado em um número maior de culturas, no controle de diversas lagartas e traças (Lepidópteros), larvas-minadoras (Diptera), alguns tripes (Thysanoptera) e algumas brocas (Coleoptera).
Mecanismo de ação das espinosinas
Com base na classificação do Insecticide Resistance Action Committee (IRAC) as espinosinas são inseticidas que atuam no sistema nervoso central dos inseto-praga, atuando como moduladores alostéricos dos receptores nicotínicos de acetilcolina (Grupo 5). Mas como entender melhor esse mecanismo?
A acetilcolina é um neurotransmissor liberado na sinapse, o qual ao se ligar aos receptores no neurônio pós-sináptico, faz com que os impulsos nervosos sejam transmitidos. O sítio-alvo das espinosinas são essas proteínas receptoras de acetilcolina.
É importante de ressaltar que os neonicotinoides também são inseticidas que se ligam aos receptores de acetilcolina, porém em locais diferentes das espinosinas. Os neonicotinoides funcionam como agonistas, ou seja, imitam a ação da acetilcolina, já as espinosinas atuam como moduladores alostéricos, ou seja, alteram a conformação da proteína receptora e com isso a tornam mais ativa.
O resultado é a ativação prolongada das proteínas receptoras de acetilcolina, causando assim a transmissão contínua e descontrolada dos impulsos nervosos, induzindo no inseto excitação e tremores contínuos. Após longos períodos de excitação, os insetos ficam paralisados pela fadiga muscular, e posteriormente morrem.
Modulação alostérica, o que é isso? Processo possível de ocorrer em proteínas ou enzimas que possuem sítios de modulação ou também chamados de sítios alostéricos. Nesses sítios podem então se ligar moléculas moduladoras de forma não-covalente. Essas moléculas moduladoras podem então alterar a atividade da enzima, tornando-a mais ativa (modulador positivo, como por exemplo as espinosinas) ou inibindo-a (modulador negativo).
Características dos inseticidas espinosinas
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O espinetoram é uma espinosina mais recente, semi-sintética, oriunda de espinosinas naturais otimizadas quimicamente. Com isso o espinetoram apresenta maior ação inseticida comparado ao espinosade.
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São inseticidas considerados não-sistêmicos na planta, embora alguns trabalhos tenham demonstrado algum movimento translaminar (em profundidade) na folha. A adição de adjuvantes recomendados é importante para melhorar a relação do produto com a folha, especialmente no controle de algumas pragas como larvas-minadoras.
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Apresentam baixa solubilidade em água e alta lipofilicidade (Tabela 1), o que explica em partes a baixa mobilidade nos tecidos.
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São moléculas com boa estabilidade em água, porém suscetíveis de serem degradadas, como por exemplo pela ação da luz. Alguns trabalhos indicam uma meia-vida não muito superior a 2 dias (Duchet et al., 2008), o que certa forma pode repercutir em um residual curto.
- Podem ser adquiridos pelo inseto tanto por contato como ingestão, porém a sua ação é maior através da ingestão.
- Podem ser usados em baixas doses, apresentam boa seletividade e baixo risco a uma grande maioria de inimigos naturais.
- São inseticidas de origem natural e com isso considerados produtos de baixa toxidade a mamíferos e aquáticos.
Espinosinas e o manejo da resistência
Devido as espinosinas possuírem mecanismo de ação único e diferente, são inseticidas que podem ser utilizados em rotação para manejo da resistência.
Existe um risco potencial, de certa forma elevado, de ocorrer casos de resistência a espinosinas. Já existem diversos casos relatados em outros países, o que serve de alerta para que esses produtos sejam usados de maneira adequada. Priorizar as boas práticas de manejo, principalmente a de rotacionar mecanismos de ação.
A princípio não há risco de resistência cruzada, ou seja, as espinosinas não são afetadas pela resistência desenvolvida a outros inseticidas.
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4 respostas
Olá professor. Existe alguma tipo de defensivo derivado das espinosinas liberado para cultivo organico?
Olá, Gustavo. Tudo bem? Considerando o Anexo VII da Portaria n° 52/2021, o uso de espinosinas somente é autorizado no sistema orgânico de produção desde que naturalmente originadas de microrganismos não OGM e não irradiados. Sendo permitido somente com a autorização do Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica – OAC ou da – Organização de Controle Social – OCS. Veja a legislação completa clicando aqui.
Um abraço.
Essas moléculas está nos anti pulgas de gatos e cachorro,sendo um inseticida não faz mal os pets ?
Oi, Rosangela! Tudo bem?
É preciso sempre consultar um médico veterinário antes de administrar qualquer medicamentos aos pets.
Mas sim, essa molécula é usada em vários medicamentos veterinários, sendo eficiente para controle de pulgas e carrapatos. Seu uso deve ser recomendado pelo médico veterinário e feito de acordo com a sua orientação, garantindo assim eficiência e segurança.
Um abraço!