Conheça os sintomas do mal-do-pé do trigo e veja qual o melhor manejo para a doença.
Neste material, você vai conhecer um pouco mais sobre:
- Sintomas do mal-do-pé
- Efeito da disponibilidade de Mn2+ no desenvolvimento da doença
- Manejo da doença
Agente causal e sintomas da doença
O mal-do-pé é uma doença causada pelo fungo Gaeumannomyces graminis (var. tritici (Sacc.) Arx & Oliv.), uma das doenças de raízes mais agressivas em cereais. Esse patógeno é responsável por causar danos econômicos em culturas como trigo, cevada, centeio e triticale.
No campo, a ocorrência da doença pode ser observada em “reboleiras” (Figura 1). As plantas atacadas por esse patógeno ficam cloróticas ou até morrem durante estágio vegetativo. Quando a doença se manifesta em estágio reprodutivo, principalmente durante a formação das espigas, estas apresentam coloração esbranquiçada ou clorótica. Os sintomas ocorrem devido à deficiência de nutrientes e de água, provocadas pela infecção no sistema radicular. As raízes infectadas apresentam coloração escura e subdesenvolvimento.
O fungo G. graminis é um patógeno necrotrófico monocíclico, ou seja, não necessita de um hospedeiro para sobreviver e não forma ciclos de vida sucessivos devido à falta de estruturas de sobrevivência. Contudo, o fungo pode se disseminar facilmente por meio de micélio transportado através de implementos agrícolas ou de ascósporos disseminados pelo vento.
Fatores favoráveis ao desenvolvimento da doença
O cultivo de cereais de inverno em anos chuvosos e temperaturas entre 12° e 20°C são condições ambientais favoráveis para o desenvolvimento do fungo. O monocultivo de trigo, cevada ou triticale pode aumentar a pressão de inóculo nas áreas. A presença de plantas invasoras hospedeiras de G. graminis também é importante para a sobrevivência do patógeno, pois estas servem como fonte de inóculo, como o caso do Azevém (Lolium multiflorum).
Outro importante fator é o pH do solo. A aplicação de elevadas doses de calcário nas áreas de cultivo eleva o pH do solo e, em muitos casos, o pH do solo torna-se neutro ou alcalino (pH > 6,5). Nessas situações, pode ocorrer a redução na absorção de nutrientes relacionados à sinalização bioquímica de defesa das células vegetais contra patógenos ou de cátions cofatores de enzimas. Esse é o caso do manganês, um micronutriente catiônico que é absorvido pelas raízes no estado divalente (Mn2+). A concentração de Mn2+ na solução do solo é altamente dependente do pH, com níveis diminuindo cerca de 100 vezes a cada unidade de aumento do pH (SILVA, 2000).
Na planta, o Mn2+ é um doador de elétrons para o complexo clorofila, e está associado à síntese de cloroplastos. O Mn2+ também é um cofator e ativador de enzimas, como hidrolases e quinases. O Mn2+ é um elemento imóvel nas plantas, ou seja, não é redistribuído para outras partes de plantas. Esse cátion também é essencial para o crescimento das raízes e para a síntese de lignina, substância que confere força e rigidez às paredes celulares (IPNI, 2019). Assim, deficiência de Mn2+ está diretamente associada a altos níveis de infecção de G. graminis (PAULITZ, 2010), provavelmente devido à redução da espessura da parede celular (barreira física para evitar a penetração do fungo) e consequente aumento da colonização das raízes pelos micélios fúngicos.
Como você pode reduzir a severidade da doença?
Uma alternativa para reduzir a severidade dessa doença é realizar adubação nitrogenada em forma amoniacal – NH4+ (PAULITZ, 2010). A aplicação de nitrogênio pode ajudar no crescimento das raízes e aumentar a área de absorção de nutrientes do sistema radicular. O NH4+ também pode competir pelos sítios de sorção no solo. O NH4+ liberado na solução do solo através da adubação será atraído pelas cargas negativas das superfícies dos coloides, uma vez que em pH alcalino o potencial eletrostático será negativo (atrai cargas positivas). Nesse caso, várias moléculas de NH4+ podem competir pelo mesmo sítio de ligação onde um cátion de Mn2+ está adsorvido. Em consequência, o NH4+ pode se adsorver na superfície e liberar Mn2+ para a solução. Assim, o manganês torna-se disponível novamente para a absorção pelas raízes.
Referências:
IPNI – International Plant Nutrition Institute. Informação agronômica sobre nutrientes para as plantas, Nutri-fatos. 2019. Disponível em: https://www.npct.com.br/publication/nutrifacts-brasil.nsf/book/NUTRIFACTS-BRASIL-18/$FILE/NutriFacts-BRASIL-18.pdf. Acesso em: 15 jun. 2021.
PAULITZ, T. C. Take-All. In: BOCKUS, W. W. et al. (ed.). Compendium of Wheat Diseases and Pests. 3rd edition. Minnesota: The American Phitopathological Society, 2010. p. 79-81.
SILVA, M. M. Fontes e modos de aplicação de manganês na nutrição, produção e qualidade da soja, cultivada em solo de cerrado. 2000. 174 f. Tese (Doutorado em Agronomia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP, Piracicaba, 2000.