Cuidado com o atraso da ferrugem nas lavouras!
Isso pode induzir a erros em safras futuras
Uma doença, como a ferrugem da soja, ocorre quando há uma perfeita interação entre a presença do fungo com uma cultivar suscetível e ainda condições de clima favorável.
No caso da ferrugem da soja, são diversos os fatores que nos levam a considerá-la a doença mais destrutível, e assim a doença mais temida para a cultura. Por isso, sempre depositamos sobre essa doença um maior potencial de dano quando comparada a outras doenças que ocorrem conjuntamente.
A ferrugem é a doença mais temida em função de que sua evolução é rápida, o ciclo de reprodução do fungo é fechado entre 7 e 14 dias, e se as medidas preventivas de controle não são tomadas, a doença pode implicar em desfolha antecipada e danos severos em produtividade. Além disso, safra após safra temos abundância de esporos do fungo, que chegam ao Brasil pelas correntes de ar vindo de outras regiões produtoras de soja, como Bolívia e Paraguai (Figura 2).
No entanto, muitos produtores, técnicos e pesquisadores se questionam, mas porque que nas duas últimas safras (2016/17 e 2017/18) a ferrugem atrasou, e chegou mais tarde nas lavouras do Sul do Brasil?
O fato da ferrugem atrasar a sua chegada ao Sul do Brasil criou um sentimento de dúvida em relação ao posicionamento recomendado pelas companhias.
Se a soja chega tarde às lavouras, não estamos “forçando” o manejo de doenças, recomendando uma proteção antecipada?
Por que o início das aplicações deve ser feito precocemente?
Então foi desnecessária a utilização de produtos altamente eficientes e de alto custo para o controle da ferrugem?
Enfim, a sensação de custos e investimentos excessivos para o controle de uma doença que atrasou a sua chegada às lavouras.
Mas porque a ferrugem atrasou a sua chegada às lavouras?
Diversos fatores que influenciam na velocidade de evolução da doença podem ter contribuído para que a ferrugem tenha atrasado.
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Escape: significativas áreas de soja tem sido semeadas em épocas de semeadura mais do cedo. Dessa forma, estamos deslocando o ciclo da cultivar em relação aos meses que a ferrugem é mais severa.
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Cultivares Inox: significativas áreas de soja foram semeadas com tecnologia Inox. Nessas cultivares a evolução da ferrugem é mais lenta e por isso contribui para redução da produção de esporos que poderiam ser disseminados e atingir outras lavouras.
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Aplicações antecipadas: com o grande número de notícias que indicavam que as safras seriam chuvosas e temendo alta severidade na safra, os produtores iniciaram as aplicações de maneira preventiva, ainda no vegetativo e antes do fechamento da entrelinha. Tal estratégia aderida por grande número de produtores causa um atraso no início da doença no campo e assim não há inóculo produzido para que seja disseminado para outras áreas.
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Ambiente: chuvas intensas: chuvas fortes podem ter efeito sobre a lavagem de lesões esporulando. Ao lavar as lesões pode haver remoção da massa de esporos produzidas levando estes para o solo e reduzindo assim a disseminação desses pelo ar. Esporos no solo morrem porque não possui capacidade de sobrevivência longe da planta.
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Ambiente: temperaturas: a infecção da ferrugem é altamente dependente de temperaturas. Para a doença explodir, ela é favorecida por temperaturas entre 20 e 27 graus. Na safra 2016/17 e 2017/18 foi notado muitos dias com temperaturas abaixo de 20 graus. Ainda, muitas noites com temperaturas mínimas abaixo de 16 graus, o que desfavorece o processo de germinação e colonização do fungo na planta.
No atraso da chegada da ferrugem reside um perigo. Se tais questionamentos e sentimentos dos sojicultores sejam levados para as safras futuras, muitos erros de posicionamento poderão ocorrer.
Precisamos entender que a relação ambiente, patógeno e hospedeiro, triângulo essencial para a ocorrência da doença, é algo muito dinâmico. Não podemos tirar as safras 16/17 e 17/18 como exemplo para o manejo da ferrugem, pois poderemos ser surpreendidos se em safras futuras a doença evolua antecipadamente.
Não é só a ferrugem que ameaça a soja!
Outro ponto importante é que, muitas vezes, o controle das doenças é focado exclusivamente sobre a ferrugem da soja. Muitos produtores, que executam este tipo de manejo, acabam controlando as outras doenças que incidem na cultura, e por vezes nem percebem a sua ocorrência.
O fato é que, nas últimas safras, tem sido verificado um aumento considerável na ocorrência de manchas foliares, oídio, antracnose e míldio, doenças que por vezes não possuem a devida atenção, mas que apresentam elevados potenciais de danos em produtividade.
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Quando as aplicações são iniciadas peventivamente, ainda no vegetativo, antes do fechamento da entrelinha, proporcionamos um controle eficiente dessas doenças. Por mais que elas tornem-se mais severas no final do ciclo, elas iniciam quando a lavoura é jovem, e as duas primeiras aplicações de fungicidas são decisivas para a eficácia de controle.
Assim, se usarmos o parâmetro de que a ferrugem chegará mais tarde e atrasarmos as aplicações iniciais, seremos induzidos ao erro de não construir sanidade na planta, desconsiderando o controle sobre as demais doenças.
O atraso das aplicações poderá permitir que todas as outras doenças iniciem nas folhas inferiores, e quando forem realizadas as aplicações atrasadas para o controle da ferrugem, o controle de manchas não ocorrerá, devido às limitações de deposição de gotas.
E mesmo a ferrugem chegando mais tarde, ela inicia-se nas folhas inferiores, e devido a sobreposição de folhas as aplicações tardias serão de baixa efetividade sobre o controle. Além disso, o atraso de aplicações induz à necessidade de encurtar intervalos de aplicação, para evitar que a doença evolua para o dossel superior na planta, o que refletirá no final do ciclo em maior número de aplicações necessárias.
Então, a mensagem final é de que não levemos o atraso da ferrugem como parâmetro para justificativa do atraso de apllicações de fungicidas. Isso induzirá a um grande equívoco e ao erro técnico. Não é só ferrugem que precisa ser controlada, mas sim todo o complexo de doenças.
Além disso, por mais que a ferrugem evolua tardiamente, para as lavouras semeadas tardiamente, o risco de danos ainda é alto devido a rápida evolução que a doença tem apresentado a partir da segunda quinzena de fevereiro.
Fique atento!