Os problemas de acamamento em soja quase sempre estão ligados ao crescimento excessivo das plantas. Geralmente é comum em regiões de maior altitude, onde chove bem, e em áreas com elevada fertilidade natural. Mas não são apenas esses fatores os responsáveis pelo acamamento. O fenômeno está ligado a cultivar, densidade populacional de plantas, época de semeadura e nutrição de plantas.
O acamamento pode favorecer o entrelaçamento de plantas e com isso aumentar o sombreamento das folhas do dossel inferior das plantas, reduzindo a fotossíntese líquida e o período que essas folhas permanecem fotossinteticamente ativas. Nesse caso, especialmente quando o acamamento ocorre no início do enchimento de grãos, poderá haver prejuízos a produtividade da lavoura. Perdas produtivas podem ocorrer também por ocasião da colheita, em virtude da dificuldade das máquinas recolherem vagens muito próximas ao solo.
Além da redução da penetração de luz, o acamamento reduz a circulação de ar nas entrelinhas, o que favorece para formação de microclima úmido, o qual pode ser favorável tanto para doenças quanto para a deterioração da qualidade dos grãos, principalmente quando associado a clima quente. Isso se torna ainda mais importante em campos de produção de sementes.
Diversas doenças em soja são favorecidas pela formação de microclima favorável e aumento no molhamento foliar. Ferrugem da soja (Phakopsora pachyrhizi) e manchas foliares, por exemplo, causadas pelos fungos Cercospora kikuchii e Septoria glycines na soja, são doenças que tem a severidade aumentada a partir R3 e podem ser favorecidas pelo acamamento, especialmente pelo microclima formado e pela proximidade de folhas superiores com as inferiores, que é onde está a fonte de inóculo. Outra doença que pode ser altamente favorecida pelo acamamento é o mofo-branco (Sclerotinia sclerotiorum), que é altamente favorecida por ambiente úmido.
Além do acamamento favorecer a evolução das doenças, ele pode dificultar a tecnologia de aplicação dos fungicidas. O entrelaçamento de ramificações e folhas dificulta a correta deposição de gotas, deixando muita área foliar desprotegida, o que pode reduzir a eficiência dos tratamentos.
Abaixo são listadas algumas ações que podem evitar ou minimizar os riscos com acamamento em soja:
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- Talvez a forma mais simples e eficiente para minimizar os problemas de acamamento é a escolha de cultivares com porte mais baixo, mais ereto e com menor propensão ao acamamento, considerando as características de cada região e cada área.
- Posteriormente é importante adequar a população de plantas. A população influencia no crescimento das plantas e com isso pode favorecer o acamamento. Muitos produtores exageram na quantidade de sementes, visando garantir número mínimo de plantas/ha, e muitas vezes a emergência ocorre para todas elas, tornando população final muito alta. População elevada de plantas estimula o maior crescimento em altura e menor diâmetro da haste, contribuindo para o acamamento. Para isso, é importante utilizar sementes certificadas, de alta qualidade e na densidade recomendada pelo fornecedor.
- Outro aspecto importante é a semeadura na época recomendada para cada cultivar e região. Algumas cultivares, quando semeadas em épocas inadequadas, crescem demais ou crescem pouco, e com isso, ficam mais vulneráveis ao acamamento.
- A adubação equilibrada também é importante e deve ser feita com base na análise do solo. Em áreas que já possuem uma boa fertilidade natural, onde é feito uso de altas doses de adubos orgânicos (como a cama de aviário ou esterco suíno, ou mesmo de altas doses de adubos minerais) é comum que as plantas cresçam demasiadamente, e consequentemente mais suscetíveis ao acamamento.
- Safras mais chuvosas favorecem o crescimento de plantas e problemas com acamamento. Isso indica que o produtor precisa ter um bom planejamento da safra, sobre previsões de clima, para correta adequação da cultivar, população e nutrição, visando minimizar os riscos, sobretudo em áreas irrigadas.
Enfim, é importante sempre considerar um crescimento equilibrado das plantas, sem exageros, para se obter alta produtividade de grãos e estrutura vegetativa que reduza a predisposição ao acamamento. Além disso, não podemos esquecer do sistema radicular da planta, que é responsável também por uma estrutura adequada e sustentação das plantas. Áreas compactadas podem reduzir o crescimento radicular, sobretudo a pivotante da soja, e, por conseguinte reduzir a sustentação das plantas. Nesse caso é importante identificar essas áreas e implantar práticas de manejo.
Saiba MaisUso de herbicidas como regulador de crescimento em soja São encontrados na literatura trabalhos avaliando essa técnica de usar herbicidas para segurar o crescimento excessivo da soja. O objetivo da técnica é cessar o crescimento em altura da planta e induzir a formação das ramificações laterais, de forma a gerar maior formação de nós reprodutivos, possibilitando maior número de flores e vagens por planta (Foloni et al., 2016). Lactofen, 2,4-D, imazetapir e clorimuron são exemplos de produtos já testados para essa finalidade. No entanto, se trata de uma tarefa altamente técnica que sofre influência de uma série de fatores como cultivar, condições ambientais, doses, momento de aplicação, enfim. O mau uso da técnica pode impactar em elevada fitotoxidade a cultura e perdas de produtividade. Referências: FOLONI, J.S.S.; HENNING, F.A.; MERTZ-HENNING, L.M.; PIPOLO, A.E.; MELO, C.L.P. Lactofen e etefon como reguladores de crescimento de cultivares de soja. XXXV Reunião de Pesquisa de Soja, Londrina, p.42-45. 2016. |