Plantas daninhas no momento da colheita
Neste material você vai conhecer um pouco mais sobre:
- Os problemas causados pelas plantas daninhas na colheita.
- Perdas na produtividade ocasionadas pela presença da corda de viola.
As áreas cultivadas com milho vêm crescendo no Brasil, principalmente para a segunda safra. O aumento na produção de milho deve-se ao aumento na demanda de consumo do grão e na diversidade de opções em que o milho pode ser usado na alimentação humana e também na animal.
Para que altas produtividades sejam alcançadas, vários processos são importantes, dentre eles, a colheita. Nesta etapa, as perdas ocorrem por vários motivos, principalmente pela má regulagem, mas também por condições ambientais, preparo inadequado do solo, época incorreta de semeadura, espaçamento e densidade de plantas, cultivares não adaptadas, infestação de plantas daninhas, teor de umidade dos grãos, idade e estado de conservação da máquina e falta de treinamento dos operadores.
Estima-se que as perdas de grãos no Brasil causadas pela interferência de plantas daninhas giram em torno de 20 a 30%. Estas perdas se dão pelo aumento no teor de água dos grãos, que diminui seu valor comercial, e consequentemente, influencia no aumento do índice de perdas no momento da colheita. Estando presentes na lavoura no momento da colheita, as plantas daninhas demandam práticas minuciosas de controle, que tornam o processo de colheita mais lento, aumentando assim o custo de produção e, portanto, diminuem a eficiência agrícola.
Uma das principais plantas daninhas causadoras de problemas na colheita é a corda de viola (Ipomoea sp.), que é anual, herbácea, trepadeira, de caules com densa pilosidade, podendo chegar até 3 metros de comprimento. Sua presença no momento da colheita inviabiliza a atividade, causando embuchamento, arrastamento e tombamento da cultura, além de desgaste dos componentes da plataforma de corte, prejudicando o rendimento da operação, levando a prejuízos significativos ao produtor.
Até 0,8 sc/ha de perdas durante o processo de colheita mecanizada é aceitável. Porém, a rentabilidade final está diretamente relacionada à redução dessas perdas ao máximo. Um estudo recente sobre este tema, realizado na região Sudeste de Goiás, revelou que as perdas ocasionadas pela presença da corda de viola são significativas e que geram uma queda drástica na produtividade do milho.
Neste estudo, foi acompanhada a colheita de um híbrido de alto nível tecnológico, destinado à produção de grãos de ciclo médio, com densidade de semeadura variando de 60 a 65 mil plantas por hectare. O plantio foi realizado na primeira quinzena de novembro de 2011, utilizando o sistema de plantio direto, com semeadora-adubadora regulada para distribuir 2,9 sementes por metro linear, com espaçamento de 0,45 m entre fileiras. Foram aplicados no sulco de semeadura 400 kg/ha da fórmula 08-20-18 (N-P-K), e a adubação de cobertura com 200 kg/ha de ureia, realizadas nas fases de desenvolvimento V3 e V4. A colhedora utilizada foi uma máquina de rotor axial, com plataforma de 13 linhas e espaçamento de 0,45 m. A velocidade de trabalho adotada foi de 4 km/h.
A coleta foi realizada em lavouras com e sem a presença da planta daninha, com 5 repetições para cada situação. As perdas foram quantificadas pela coleta de espigas após a passagem da colhedora, em uma área de 30 m², que foram debulhadas e pesadas; e também pela coleta e pesagem de grãos soltos em uma área de 2 m² com umidade corrigida para 13%. A perda total foi quantificada por meio da soma das perdas de grãos em espigas com as perdas de grãos soltos no solo.
Os resultados mostraram que as perdas na área de milho colhido com a presença da corda de viola foram quase 10 vezes maiores do que a área sem infestação. As maiores perdas estão relacionadas ao embuchamento dos componentes da plataforma de corte provocado pela planta daninha, que dificulta o recolhimento das espigas. As perdas totais chegaram a 20,3 sc/ha, enquanto que na lavoura isenta, as perdas foram de 2,4 sc/ha, como podemos ver no gráfico a seguir.
Analisando os resultados, vemos que as perdas de grãos soltos também duplicaram com a presença da planta daninha, indo de 0,24 sc/ha na lavoura sem a corda de viola, para 0,44 sc/ha na área com infestação.
Quanto à localização das perdas, elas concentram-se na plataforma de corte e nos mecanismos internos, com 97,79% e 2,21% das perdas, respectivamente. A concentração de perdas na plataforma justifica-se pelo arrastamento e tombamento das plantas de milho, já que a corda de viola, em função do seu hábito de crescimento, enrola-se na cultura. Outro ponto que se soma é a incompatibilidade do número de linhas da semeadora com o número de linhas da plataforma de corte, potencializando a perda de espigas.
Para minimizar tal problema, é fundamental empregar medidas de controle de plantas daninhas, principalmente aquelas que causam problemas durante a colheita mecanizada. As medidas de controle devem evitar a multiplicação da planta daninha e também reduzir o banco de sementes no solo, favorecendo a produção de milho nas próximas safras. Um exemplo é a aplicação dirigida de herbicidas nas entrelinhas, complementando as aplicações anteriores, e que tem por objetivo melhorar as condições de colheita, promovendo o controle das plantas daninhas chamadas de tardias. Esta aplicação de herbicidas se dá nas entrelinhas do milho, permitindo que o jato do pulverizador atinja somente as folhas baixeiras; para isso as plantas devem estar com 40 a 50 cm de altura, no mínimo.
A corda de viola é a planta daninha que eleva potencialmente as perdas na colheita mecanizada do milho. Sendo assim, é recomendado o seu controle para reduzir os prejuízos tanto no rendimento da cultura como na redução do desgaste da colhedora.
Este artigo foi publicado originalmente pela Revista Cultivar, sendo de autoria de Tiago Rodrigues de Sousa, Sebastião Pedro da Silva Neto e Rute Quélvia Faria.