Mosca-da-haste da soja (Melanagromyza sojae)
A Mosca-da-haste da soja (Melanagromyza sojae) é uma praga de grande importância em cultivos de soja em países asiáticos como China, Índia, Indonésia e Nepal resultando em prejuízos no cultivo do grão. Outros países como a Espanha, partes da Rússia e Austrália recentemente vêm sofrendo com a ocorrência da praga. No Brasil já houve relatos de presença da mosca na década de 1980, porém de forma esporádica sem haver maiores problemas quanto à nível de disseminação.
No entanto, a Mosca-da-haste da soja (Figura 1) sempre foi considerada como uma espécie exótica de ameaça para o cultivo de soja no Brasil, visto sua capacidade de proliferar e persistir nos ambientes agrícolas. Recentemente foram reportados casos de ataque da praga em cultivos de soja safrinha nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (2015) e em abril deste ano (2018) no estado de Goiás, o que gera preocupações quanto a uma possível disseminação dentro de importantes regiões produtoras de soja no Brasil.
Pertencente à família Agromyzidae, o adulto de M. sojae são moscas pretas de difícil percepção no campo que depositam seus ovos na face abaxial das folhas ou nos ramos tenros da planta hospedeira e estes se desenvolvem em larvas dentro de 2 – 3 dias.
Na fase larval é o momento em que ocorre o dano, uma vez que a larva broqueia nervura das folhas e migra para a haste através do pecíolo para alimentar-se das estruturas interna da planta se locomovendo e formando galerias dentro da haste durante seu período de desenvolvimento que é de 7 a 11 dias. Em seguida a larva empupa e fica mais 9 – 10 dias dentro da haste até se tornar um novo adulto e projetar-se para fora da planta. A duração média do ciclo de vida do inseto é de 16-26 dias.
A alimentação das larvas no interior das hastes provoca sérios danos às plantas, sendo que a formação de galerias impede a translocação de nutrientes e água bem como pode comprometer a sustentação da planta pela haste principal. O ataque da praga pode diminuir o diâmetro haste, tamanho de entrenó e altura da planta, resultando em nanismo e deficiência nutricional. A ocorrência da mosca- da-haste pode ser ao longo do ciclo da soja, mas o período crítico é na fase inicial da cultura, podendo ocasionar morte de plântulas e consequentemente falhas de estande na lavoura.
Monitoramento
O monitoramento da praga de maneira geral é complicado e por vezes os danos causados na soja passam despercebidos visto que a planta pode demorar para apresentar sintomas externos ao ataque, com exceção do orifício de saída do inseto adulto (Figura 2).
Em locais com indicativo de ataque é necessário fazer amostragens de plantas e abertura longitudinal das hastes ou ramificações da planta para avaliar a presença de galerias, presença de larvas ou pupas da praga.
Controle
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Para o controle é necessário o entendimento da biologia da praga. Apesar de ser uma praga polífaga, seus principais hospedeiros são espécies da família Fabaceae como soja e feijão. Em consequência, é necessário evitar-se plantas voluntárias “tigueras” durante a entressafra da cultura para reduzir a fonte de alimento e quebrar o ciclo da praga. Pelo mesmo motivo, rotação de culturas com gramíneas também é uma alternativa, além da antecipação da semeadura da soja.
A mosca-da-haste da soja ataca predominantemente na fase de plântula. As primeiras quatro semanas após a germinação é o período crítico para o ataque da mosca, necessitando cuidados especiais quanto ao quesito manejo. Embora não existam produtos registrados para o manejo da mosca-da-haste, o tratamento de sementes à base de fipronil, clorpirifós e clorantraniliprole oferece ação de controle da praga, uma vez que esses inseticidas podem ser translocados para os locais onde as larvas estão se alimentando, ocorrendo a mortalidade da mesma. Informações quando ao efeito de pulverizações de inseticidas em parte aérea ainda são incipientes no Brasil.
Sabe-se que após o broqueamento e entrada da larva na haste (Figura 3), o controle químico por meio de pulverização torna-se pouco efetivo devido a praga estar protegida no interior da haste da planta dificultando a ação do inseticida. Provavelmente as aplicações deverão focar nos adultos, de maneira preventiva, antes da penetração das brocas na planta e para isso o monitoramento da praga será prática fundamental. Algumas estratégias de controle biológico têm sido amplamente pesquisadas, com resultados promissores como alternativa para o manejo integrado dessa praga.
À nível mundial, a mosca-da-haste da soja causa sérios problemas à cultura da soja, portanto a atenção com o desenvolvimento desta praga em território brasileiro é fundamental para evitar maiores problemas em um futuro próximo. O manejo eficiente para barrar a evolução dessa praga não deve se restringir apenas ao período de cultivo, deve haver um entendimento sistêmico, como por exemplo a preocupação com a soja “tiguera” na entressafra, a qual tem singular importância para a sobrevivência e proliferação desta e de outras pragas agrícolas.
Referências:
HIROSE, E; MOSCARDI, F. Insetos de outras regiões do mundo: ameaças. Soja–manejo integrado de insetos e outros artrópodes-praga, 1st ed. Embrapa, Brasília, Brazil, p. 445-492, 2012.
CZEPAK, C. et al. Primeiro registro da mosca-da-haste da soja Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae) no Cerrado brasileiro. Pesquisa Agropecuária Tropical (Agricultural Research in the Tropics), v. 48, n. 2, p. 200-203, 2018.
ARNEMANN, J. A. et al. Complete mitochondrial genome of the soybean stem fly Melanagromyza sojae (Diptera: Agromyzidae). Mitochondrial DNA Part A, v. 27, n. 6, p. 4534-4535, 2016.
CURIOLETTI, L.E. et al. First insights of soybean stem fly (SSF) Melanagromyza sojae control in South America. Australian Journal of Crop Science, v.12, n. 5, p. 841-848, 2018.
Fotos:
Merle Shepard, Gerald R.Carner, and P.A.C Ooi, Insects and their Natural Enemies Associated with Vegetables and Soybean in Southeast Asia, Bugwood.org, disponível em: https://www.forestryimages.org/browse/detail.cfm?imgnum=5368102.