Resumo:
A redução do volume de calda de aplicação de herbicidas, com valores abaixo dos especificados na bula destes produtos, é atividade corriqueira em lavouras de soja, principalmente devido ao ganho de eficiência operacional. Contudo, há uma quantidade limitada de estudos disponíveis para dar respaldo a aplicações terrestres, utilizando baixas vazões para a aplicação.
Com o objetivo de avaliar se aplicações com baixo volume afetam a eficácia de controle de herbicidas, ensaios foram instalados na estação experimental do Instituto Phytus, localizada em Itaara/RS. Nestes ensaios avaliaram-se a eficácia de controle da planta daninha poaia-branca (Richardia brasiliensis) com aplicações de dois herbicidas pós-emergentes – bentazona e o imazetapir, além de avaliação do rendimento da cultura, variável que é grandemente influenciada pela qualidade do controle de plantas daninhas. As doses utilizadas foram de 720g e 50g do ingrediente ativo/ha para bentazona e imazetapir, respectivamente, aplicados em dois volumes de calda – alto (200 l/ha) e baixo (70 l/ha).
O herbicida bentazona, que possui limitada translocação e ação pronunciada por contato, foi mais afetado pela redução no volume de calda, fato que pode estar relacionado à necessidade de melhor cobertura na planta-alvo. Já o herbicida sistêmico (imazetapir) teve sua eficácia melhorada nesta situação. Em ambos os casos não houveram diferenças significativas produtivas entre os dois volumes de calda de aplicação, devido à maior variabilidade nos dados coletados para esta variável.
Estes resultados sugerem que outros herbicidas, que atuam por contato (como o paraquate), podem ser, também, negativamente afetados pelo uso de baixo volume; por outro lado, produtos sistêmicos como o glifosato, em especial aqueles com caráter de ácido fraco, poderiam ter sua eficácia melhorada nestas condições, devido a uma possível maior concentração na calda de aplicação.
Introdução
As perdas produtivas causadas pela competição com plantas daninhas (chamada comumente de matocompetição) na cultura da soja (Glycine max L.) podem superar 80%1, dependendo das espécies de plantas daninhas presentes, do tempo de convivência com a cultura, do cultivar utilizado, dentre vários outros fatores.
Nesta cultura destaca-se a poaia-branca (Richardia brasiliensis Gomes2. Esses herbicidas são aplicados na pós-emergência da cultura e das plantas daninhas, sendo seletivos à cultura.
Atualmente, é comum que agricultores utilizem baixos volumes de calda para pulverizações terrestres, visando ganho operacional e menores custos de aplicação devido à menor necessidade de deslocamento para enchimento do tanque de pulverização. Contudo, resultados para respaldar a realização desta prática são escassos na literatura. Uma perda de eficácia dos herbicidas devido a um menor volume de calda de aplicação possibilitaria que plantas daninhas sobrevivam e venham a competir com a cultura, causando perdas potencialmente expressivas e anulando a economia causada pelo uso do baixo volume em si.
Em vista do apresentado, objetivou-se determinar se a utilização de volume reduzido de calda afeta a eficácia de controle de poaia-branca obtida por aplicações de imazetapir e bentazona. A hipótese principal é de que a redução do volume de calda prejudique a ação do herbicida de contato (bentazona) mas que favoreça a ação do sistêmico (imazetapir).
Materiais e métodos
Experimentos foram conduzidos na estação experimental do Instituto Phytus, em Itaara/RS, durante a safra agrícola 2016/2017. Utilizou-se a cultivar de soja BMX Tornado RR, a qual foi semeada em dezembro de 2016.
Os tratamentos, herbicidas e doses utilizadas estão presentes na tabela 1. A unidade experimental consistiu de parcelas de 5 metros x 3 metros, e foram utilizadas 4 repetições para cada tratamento, dispostas em blocos inteiramente casualizados.
Herbicidas e Doses | Mecanismo de ação | Volume de calda |
---|---|---|
Imazetapir 50g ea/ha | Inib. de ALS (AHAS) – sistêmico | Baixo (70 l/ha) |
Imazetapir 50g ea/ha | Inib. de ALS (AHAS) – sistêmico | Alto (200 l/ha) |
Bentazona 720 ia/ha | Inib. FS II – contato | Baixo (70 l/ha) |
Bentazona 720 ia/ha | Inib. FS II – contato | Baixo (200 l/ha) |
Testemunha sem aplicação | – | – |
A aplicação deu-se sob condições climáticas adversas, para maximizar possíveis efeitos deletérios do volume reduzido de calda. Assim, a temperatura média durante a aplicação foi de 31,5 °C e a umidade relativa do ar foi de 46%.
Avaliou-se a eficácia de controle de poaia-branca através de análises visuais do percentual de controle de plantas desta espécie, realizadas em comparação ao tratamento testemunha sem aplicação. A produtividade de grãos também foi avaliada através da colheita de 9 m2 em cada parcela.
Dados coletados foram sujeitos à análise de variância (ANOVA) a um nível de confiança de 95% (alpha de 5%). A separação de médias foi realizada utilizando-se o teste de Tukey e o programa de estatística SigmaPlot v.12.
Resultados
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Os resultados indicaram piora no nível de controle da invasora quando o herbicida bentazona foi aplicado com volume reduzido de calda, sendo o inverso notado para o herbicida imazetapir (figura 2).
Não houve, entretanto, diferenças significativas na produtividade (figura 3), devido à grande variabilidade obtida para esta variável.
Conclusões
Neste trabalho, o herbicida de contato (bentazona) foi mais afetado pela redução no volume de calda, fato que pode estar relacionado à necessidade de melhor cobertura na planta-alvo. Já o herbicida sistêmico (imazetapir) teve sua eficácia melhorada nesta situação.
Estes resultados sugerem que outros herbicidas, que atuam por contato (como o paraquate), podem ser similarmente afetados pelo uso de baixo volume; por outro lado, produtos sistêmicos como o glifosato, em especial aqueles com caráter de ácido fraco, poderiam ter sua eficácia melhorada nestas condições, devido à uma possível maior concentração na calda de aplicação.
Autores: Rafael M. Pedroso, Marcos Murari e Gustavo Cezar
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 Oerke EC (2006). Crop Losses to Pests. Journal of Agricultural Science Vol. 144, No. 1: 31-43.
2 Christoffoleti PJ, Nicolai M, et al. (2016). Aspectos de resistência de plantas daninhas a herbicidas. 4ª edição. DIBD/ESALQ/USP.