Os nematoides passam grande parte do seu ciclo de vida no solo. Vários fatores nesse ambiente influenciam no seu desenvolvimento e dinâmica populacional, como por exemplo, as plantas hospedeiras, temperatura, umidade, aeração, textura, matéria orgânica e a microbiota. O número de fitonematoides presente do solo aumenta com a presença de plantas hospedeiras e condições ambientais favoráveis. Em áreas bem infestadas, o ataque em culturas como soja, milho, feijão, tabaco, algodão, arroz entre outras, causam grandes perdas, chegando a inviabilizar o cultivo em determinadas áreas. Os mais problemáticos para as culturas como soja, os nematoides-das-galhas (Meloidogyne incognita e M. javanicaHeterodera glycinesPratylenchus brachyurus nematoide-reniforme (Rotylenchulus reniformis). Já para a cultura do arroz o Meloidogyne graminicola é o mais importante. Para o tabaco além de M. incognita, M. javanica acrescenta-se M. arenaria e M. enterolobii.
A redução populacional desses nematoides no solo tem sido possível com a utilização, principalmente, de cultivares tolerantes/resistentes, da rotação com culturas não-hospedeiras, do uso de nematicidas químicos e de agentes de controle biológico. O uso de microrganismos para o controle biológico tem crescido muito, ao ponto que já temos 23 produtos atualmente registrados no Brasil. O Instituto Phytus localizado nas regiões sul e centro norte do Brasil (RS e DF), nas últimas safras, tem acompanhado através de estudo à campo em áreas de produção comercial de soja infestadas por fitonematoides, o benefício do uso de agentes biológicos no manejo e controle, tendo verificado benefícios na redução populacional e incrementos significativos de produtividade pela utilização desses produtos (Figuras 1 e 2). Dentre as classes de microrganismos com potencial de controle biológico estão alguns fungos, bactérias, ácaros, protozoários, oligoquetas e vírus, mas os mais utilizados até então, em produtos comerciais, têm sido alguns fungos e bactérias.
Os agentes de biocontrole podem atuar sobre diferentes fases da vida do nematoide, como nas fases de ovo, fases juvenis móveis no solo, ou no interior das raízes. Uma das grandes vantagens desses microrganismos é a multiplicidade dos mecanismos de ação. Esses microrganismos podem produzir compostos tóxicos, podem parasitar diretamente e matar os nematoides e podem competir por espaço e alimento. A concentração dos agentes de biocontrole no solo é maior onde há alimento, isto é, ao redor das raízes, pois essas liberam nutrientes em seus exsudatos. Nesse sentido, a capacidade do nematoide detectar e penetrar as raízes também pode ser alterada pelos agentes de biocontrole. Além disso, alguns fungos e bactérias podem emitir sinais para a planta que desencadeiam ativação de respostas de defesas que as tornam mais resistentes. Dessa forma a formação de células vegetais especializadas para a alimentação dos nematoide é alterada, impedindo a sua nutrição. Toxinas e enzimas líticas também são produzidas por fungos e bactérias e podem degradar a parede dos ovos ou a cutícula do corpo dos nematoides, favorecendo à sua predação e morte.
<
O gênero com maior sucesso para o controle biológico de fitonematoides no momento tem sido as espécies de Bacillus, sendo as mais utilizadas B. subtilis, B. firmus, B. methylotrophicus, B. licheniformis e B. amyloliquefaciens. Essas bactérias vivem nas proximidades ou no interior das raízes, por isso são chamadas de rizobactérias, e não apresentam efeitos nocivos para as plantas, pelo contrário, podem atuar como promotoras de crescimento.
Bactérias do gênero Pasteuria são outros exemplos que têm sido testadas no controle de nematoides. Essas bactérias são parasitas de fitonematoides e dependem exclusivamente deles para se multiplicarem no solo. Além dessas bactérias, alguns fungos colonizadores de raízes, podem apresentar efeitos benéficos no controle de fitonematoides, como por exemplo o Purpureocillium lilacinum, Pochonia chlamydosporia e espécies de Trichoderma, ambos já encontrados em produtos comerciais. Tais fungos podem parasitar os fitonematoides levando-os a morte, bem como podem induzir resistência sistêmica nas plantas e promoverem o desenvolvimento radicular e da parte aérea.
Figuras 1 e 2: Diferença de incrementos produtivos em função da adoção de nematicidas biológicos no manejo de fitonematoides em diferentes safras e regiões produtoras de soja.
A forma de aplicação, o momento e as condições do meio são fatores que afetam a eficácia dos biológicos. Aplicação apenas em tratamento de sementes possui efeito inferior comparado a aplicação no sulco. A combinação de sulco + tratamento de semente proporciona os melhores resultados. É importante que o solo apresente umidade e temperatura adequada para os biológicos encontrem condições favoráveis para germinarem, crescerem e colonizarem o solo. Quanto ao momento, diversos trabalhos têm indicado que a aplicação antecipada, durante a entressafra, pode possibilitar que os biológicos iniciem sua atividade sobre o inóculo inicial dos nematoides, principalmente em restos culturais e nos ovos no solo, propiciando uma redução da pressão de ataque a cultura de verão subsequente. O planejamento assertivo das culturas de inverno a serem utilizadas ou aquelas de cobertura para formação de palhada com a aplicação de biológicos pode proporcionar resultados muito positivos no manejo de nematoides.
Portanto, nota-se que o uso de combinação de produtos é uma prática promissora, com mecanismos de ação complementares, os quais podem aumentar a eficiência e consistência de controle. As associações de biológicos, fungos + bactérias, por exemplo, bem como de nematicidas químicos + biológico, tem sido testada pela pesquisa visando maximizar o controle. Especialmente no caso de combinações de químicos + biológicos, é muito importante avaliações prévias de compatibilidade. No caso de haver compatibilidade, se torna uma combinação muito interessante, podendo promover um maior efeito residual e maior redução populacional dos nematoides.