A agricultura biológica expressa-se por meio de diferentes teorias e conclusões. Neste material, você vai compreender um pouquinho mais acerca da teoria na qual a trofobiose é baseada.
Teoria da trofobiose de Francis Chaboussou
A teoria da trofobiose foi originada pelo biólogo francês Francis Chaboussou e é considerada um dos pilares para a agricultura biológica. A palavra trofobiose em tradução significa a existência da vida em função do alimento, onde “trofo” (grego “trofé”) significa alimento, crescimento, e “biose” (derivada do grego “biosis”), a existência da vida (BARROS; BARROS, 2021).
Inicialmente, Dufrenoy (1936) postulou que toda circunstância desfavorável ao crescimento celular tende a provocar um acúmulo de compostos solúveis não utilizados, como açúcares e aminoácidos, diminuindo a resistência da planta ao ataque de pragas e doenças. A partir deste fato, Chaboussou (1980; 1985) descreveu que a suscetibilidade das plantas é relacionada à existência de fatores nutricionais em seus tecidos, principalmente de elementos solúveis presentes nos vacúolos das células, e em particular aminoácidos e glicídeos redutores.
A teoria ainda aborda que a planta ou parte dela só será atacada por um inseto, ácaro, nematoide, fungo ou bactéria, em níveis de danos econômicos, quando tiver na sua seiva o alimento que estes precisarem, principalmente aminoácidos.
O tratamento inadequado de uma planta, especialmente com substâncias de alta solubilidade, conduz a uma elevação excessiva de aminoácidos livres que estarão disponibilizados quando o predador se alimentar. Portanto, a manutenção de um ambiente natural e um metabolismo de planta conservado são fundamentais para a redução de pragas e doenças (CHABOUSSOU, 1987; PINHEIRO; BARRETO, 1996; SOUZA, 2015).
Alguns adubos minerais solúveis, especialmente os nitrogenados, como também agrotóxicos orgânicos sintéticos, quando absorvidos pelas plantas, podem interferir na fisiologia do vegetal, reduzindo a proteossíntese e acumulando aminoácidos livres e açúcares redutores. Estes, como são utilizáveis pelas pragas e agentes fitopatogênicos, irão favorecer sua ocorrência na lavoura, o que resultará em danos significativos à cultura e a necessidade de controle destes organismos (ALVES et al., 2001).
O entendimento da teoria da trofobiose e sua aplicação está diretamente relacionada ao manejo agroecológico das culturas e é muito empregado nesta situação, contribuindo para a resistência fisiológica vegetal e o equilíbrio do ambiente de produção, que necessitará de menor manejo de pragas e doenças, promovendo maior sustentabilidade do agroecossistema (VILANOVA; SILVA JUNIOR, 2010).
Referências
ALVES, S. B.; MEDEIROS, M. B.; TAMAI, M. A.; LOPES, R. B. Trofobiose e Microrganismos na proteção de plantas. Biotecnologia, Ciência e Desenvolvimento, n. 21, jul./ ago. 2001.
BARROS, J. L. A. P.; BARROS, V. L. N. P. Trofobiose como ferramenta para o manejo de pragas e doenças de plantas. 2021. Disponível em: TROFOBIOSE.pdf agricultura.sp.gov.br. Acesso em: 15 abr. 2021.
CHABOUSSOU, F. Plantas doentes pelo uso de agrotóxicos: a teoria da trofobiose. Porto Alegre: L&M, 1987.
CHABOUSSOU, F. Les Plantes Malades des Pesticides. Paris: Editions Débard, 1980. 265p.
CHABOUSSOU, F. Santé des cultures, une revolution agronomique. Paris: Flammarion, 1985. 296p.
DUFRENOY, J. Le traitement du sol, desinfection, amendement, fumure, en vue de combatte chez les plantes agricoles de grabnde culture les affections parasitaires et les maladies de carence. Ann. Agron. Suisse, p. 680-728, 1936.
PINHEIRO, S.; BARRETO, S. B. ‘MB4’: agricultura sustentável, trofobiose e biofertilizantes. Canoas: La Salle, 1996.
SOUZA, J. L. Agroecologia e agricultura orgânica: princípios, métodos e práticas. Vitória: Incaper, 2015.
VILANOVA, C.; SILVA JUNIOR, C. D. Avaliação da trofobiose quanto às respostas ecofisiológicas e bioquímicas de couve e pimentão sob cultivos orgânico e convencional. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 5, n. 1, mar. 2010. ISSN 1980-9735. Disponível em: http://revistas.aba-agroecologia.org.br/index.php/rbagroecologia/article/view/7575. Acesso em: 26 abr. 2021.