A cigarrinha do milho, Dalbulus maidis, vem chamando a atenção como uma das principais pragas da cultura do milho, passando a estar presente não só nas lavouras produtoras de sementes, como também em praticamente todas as regiões produtoras do cereal, na primeira e na segunda safra. Seu potencial de dano é elevado devido à transmissão dos enfezamentos e de viroses, chegando a 90 % de perdas, principalmente quando o híbrido cultivado é sensível a estas doenças.
Conhecendo a praga
A praga é capaz de danificar diretamente a planta, por ser um inseto sugador, porém, são os seus danos indiretos, os que mais limitam a produção de milho, já que a cigarrinha é vetora de fitopatógenos como os molicutes Fitoplasma (Maize bushy stunt phytoplasma) e Espiroplasma (Spiroplasma kunkelii), que causam os enfezamentos do milho e o Raiado Fino (Maize rayado fino – MRFV) (OLIVEIRA, 2008).
A cigarrinha do milho, quando adulta, mede de 3,7 a 4,3 milímetros de comprimento e apresenta a cor amarelo-palha, sendo facilmente encontrada no cartucho do milho, onde também vivem as ninfas. Os ovos, de coloração amarelada, apresentam um período embrionário de cerca de nove dias, sendo colocados dentro dos tecidos das plantas, preferencialmente na nervura central da folha. Estes insetos são muito afetados pela temperatura, e em temperaturas abaixo de 20 °C as ninfas não eclodem (WAQUIL, 2004).
O que torna a cigarrinha uma praga tão poderosa é seu alto potencial biótico e sua capacidade de migrar a longas distâncias, permitindo uma infestação rápida das lavouras de milho, das recém-germinadas até as em florescimento, principalmente quando há lavouras próximas com plantas adultas (OLIVEIRA, 2000).
Transmissão de doenças
Na cultura do milho, temos dois enfezamentos causados por molicutes (hiperlink para https://elevagro.com/video/mollicutes-o-que-sao-e-o-que-causam/): o pálido, causado pelo patógeno Spiroplasma kunkelii, e o vermelho, causado pelo Maize bushy stunt phytoplasma. Ambos têm na cigarrinha seu vetor (OLIVEIRA et al., 2002).
A diferença entre as duas doenças está nos sintomas. O enfezamento pálido causa, inicialmente, a formação de listras largas descoloridas, amarelas ou verde-limão, na base das folhas infectadas, e com o avanço da doença, as folhas novas apresentam o mesmo sintoma. Somado a isso, temos o encurtamento de entrenós, espigas malformadas, deformadas ou ausentes e deformações no pendão. Em algumas situações, esses sintomas podem ser mais brandos ou ausentes. Já o enfezamento vermelho leva ao avermelhamento de folhas mais velhas; ao encurtamento de entrenós, ao perfilhamento anormal e ao desenvolvimento de várias espiguetas.
Quando a planta de milho é sugada pela cigarrinha, os molicutes são transmitidos e invadem sistematicamente o vegetal, multiplicando-se nos tecidos vasculares das plantas, mais especificamente no floema. A cigarrinha passa a ser vetor destes fitopatógenos quando, ao se alimentar de plantas doentes, os adquire; depois, ao sugar plantas sadias, transmite-os a estas (WAQUIL, 2004). Porém, ao adquirir o patógeno, a cigarrinha passa por um período latente, que varia de 3 a 4 semanas. Este período de latência pode variar em função do clima, principalmente da temperatura, tendo a condição ótima em 18 a 30 °C. Em caso de temperaturas abaixo de 16 °C, o período de latência pode aumentar (OLIVEIRA et al., 2007).
Outros danos causados pelos enfezamentos
Além dos sintomas já vistos, como redução do porte das plantas, redução da área foliar, obstrução do floema, malformação de espigas e grãos, os enfezamentos ainda podem causar:
- Podridão de espigas, afetando diretamente o peso e a qualidade dos grãos;
- Aumento do índice de quebramento de colmo, dificultando a operação de colheita e, com isso, uma significativa perda de produtividade.
E o Raiado Fino?
Raiado Fino é outra doença transmitida por D. maidis, que pode comprometer até 30 % da produção de milho, podendo ocorrer simultaneamente aos enfezamentos, por ter o mesmo agente vetor. Todavia, sua incidência é variável em cada região a cada ano, e geralmente não atinge os mesmos níveis de incidência dos enfezamentos.
Os sintomas iniciam com a formação de pequenos pontos cloróticos na base e ao longo das nervuras das folhas jovens. Estes pontos podem se unir, tomando o aspecto de riscas curtas. A visibilidade dos sintomas aumenta quando a folha atacada é observada contra a luz. Os sintomas podem iniciar-se em plantas jovens, em torno de 30 dias após a semeadura, seguindo visíveis até a fase produtiva. Outro sintoma que pode ocorrer é a formação de espigas e grãos menores que o normal.
Quais são as medidas de controle?
Para manejar a cigarrinha do milho e evitar a transmissão dos enfezamentos, temos várias medidas que podem ser tomadas:
- Utilizar cultivares de milho com resistência genética ao complexo de enfezamento.
- Eliminar plantas voluntárias de milho, que podem servir como fonte de inóculo.
- Realizar tratamento de sementes com inseticida, sempre que possível, para controlar a cigarrinha, principalmente em áreas onde a incidência e a época de ocorrência dos enfezamentos oferece mais riscos.
- Fazer monitoramento e aplicações de inseticidas no período vegetativo, principalmente nos estágios iniciais (V4 até V12), lembrando que pode ocorrer ataque da cigarrinha até VT.
- Evitar semeaduras tardias e escalonadas, que podem concentrar cigarrinhas na nova lavoura, advindas de lavouras com plantas adultas presentes nas imediações.
- Diversificar híbridos e cultivares para evitar variação genética dos patógenos.
Artigo publicado originalmente pela Revista Cultivar.