Neste material você vai conhecer alternativas de controle de doenças no trigo como:
– Introdução;
– Controle por métodos genéticos;
– Controle por métodos culturais;
– Controle por métodos biológicos;
– Controle por métodos químicos.
Introdução
O Trigo, originário da Ásia, foi introduzido na Índia, na China e na Europa desde 5.000 anos A.C.. O homem no cultivo da terra provocou um grave desequilíbrio ecológico, em que extensas áreas de cultivo, com uma mesma espécie vegetal (trigo, por exemplo) selecionou espécies de patógenos especializados em atacar a cultura, com o objetivo único de perpetuação da espécie.
Atualmente, cultivares adaptadas são cultivadas desde o Equador até 60° de latitude (Mota, 1982). O auge da triticultura no país foi alcançado no ano de 1987, quando foram semeados mais de 3,8 milhões de hectares, com a produção atingindo 6,2 milhões de toneladas. Um dos grandes obstáculos à alta produtividade de trigo é a ocorrência de elevado número de doenças de origem fúngica.
As perdas causadas pelas doenças na cultura do trigo são relativamente elevadas. Trabalho realizado por Picinini et al. e colaboradores (1995) demonstraram, em doze anos de experimentação, uma perda média de 44,61%, equivalente a 1,152 kg (19,2 sacas de 60 kg) de trigo por hectare.
Os principais métodos de controle das doenças de trigo são: genéticos, culturais, biológicos e químicos e serão discutidos a seguir.
Controle por métodos genéticos
Para o complexo de doenças existentes hoje na cultura do trigo, tornou-se muito difícil a incorporação de resistência genética para todas as enfermidades.
O melhoramento genético tem obtido enorme sucesso em incorporar resistência aos fungos denominados de biotróficos, como as ferrugens e os oídios, por exemplo, em que resistência genética é governada por poucos genes.
A maioria das cultivares lançadas atualmente apresentam, para esses patógenos, resistência genética. No entanto, o aumento da área de cultivo com uma mesma cultivar, aliado às condições climáticas favoráveis, contribuem para que a resistência genética a esses patógenos seja pouco durável à campo.
A quebra da resistência genética da cultivar CNT 10 no ano de 1982 para ferrugem da folha, e, mais recentemente, das cultivares /Embrapa 16 e OR 1 para ferrugem da folha e para oídio, são exemplos a serem relatados.
Para esse tipo de patógeno, quando ocorre a quebra de resistência genética, o controle por meio de pulverizações com fungicidas tem se mostrado, desde que se observem os critérios recomendados, muito eficiente (Picinini, 1996).
Para os fungos denominados necrotróficos, como os causadores das “manchas foliares”, a resistência genética é, aparentemente, governada por muitos genes. Nesse caso, o sucesso não tem sido muito expressivo.
Para esse tipo de patógeno o controle pelo uso de fungicida tem se mostrado mais difícil do que o anteriormente descrito. O conhecimento da reação das diferentes cultivares às principais doenças se constitui em importante ferramenta para o sucesso no controle de doenças em trigo.
Controle de doenças por métodos culturais
As técnicas de preparo de solo no Brasil, até o final dos anos 70, eram caracterizadas pela queima de palha e pelo revolvimento do solo com o uso de arado e de grades de discos. Essa técnica era adequada para facilitar a semeadura, para controle de plantas daninhas e para controle de doenças (Fernandes, 1997). No entanto, o uso intensivo desse preparo degradou o solo e formou camadas compactadas, levando a um processo erosivo que chegava a 20 t/ha de solo arável por ano (Kochham, 1990).
A necessidade de se obter produções mais econômicas e competitivas, menos agressivas ao meio ambiente, introduziu novo conceito no sistema de produção: a sustentabilidade. O sistema plantio direto foi então desenvolvido.
A manutenção dos restos culturais (palha) na superfície do solo, evitando a erosão, trouxe mudança drástica ao microclima (clima onde vivem plantas e animais) favorecendo a incidência de doenças.
Doenças como a mancha bronzeada da folha do trigo, induzida por Drechslera tritici-repentis, por exemplo, são marcadamente influenciadas pelo sistema plantio direto, pois esse patógeno tem se destacado pela habilidade em sobreviver nas camadas superficiais dos restos culturais.
O estudo e o desenvolvimento de estratégias que visam minimizar os efeitos desses patógenos (sobreviventes na palha) são fundamentais para a sustentabilidade da nova agricultura. Diretamente relacionados com o ambiente, o conhecimento e a interpretação desses fenômenos são importantes ferramentas no manejo das enfermidades.
A água, por exemplo, provoca molhamento foliar, oferecendo estímulos à germinação de esporos de fungos (exceto para o oídio, onde 90% do peso do esporo é composto de água), a temperatura, importante na velocidade do processo de infecção, o vento, importante agente na disseminação dos propágulos).
O mal-do-pé do trigo, induzido por Gaeumannomyces graminis f. sp. tritici, por exemplo, é uma doença decorrente da monocultura. No sul do Brasil, trabalhos de Fernandez & Santos (1992) evidenciaram que a semeadura de trigo deve ser realizada na mesma área a intervalos de um a dois anos. A aveia (Avenae spp.) é a principal cultura utilizada no sistema de rotação com trigo, pois não hospeda o fungo.
A podridão comum das raízes, induzida por Bipolaris sorokiniana, pode causar perdas de até 18,7% na produtividade do trigo (Diehl, 1983). A severidade das doenças diminui com a rotação de culturas.
O grande efeito no controle de doenças pelo sistema de rotação de culturas é observado nos patógenos denominados de necrotróficos (sobreviventes na palha) como a mancha bronzeada da folha, a mancha da gluma e a mancha marrom (Fernandes, 1997).
Das duas doenças bacterianas que atacam a cultura de trigo, a mancha estriada (Xanthomonas campestris pv. Undulosa), relatada por Luzzardi et al., (1983), é considerada a mais importante. Especula-se que a monocultura, a irrigação por aspersão e a movimentação de sementes infectadas entre as diferentes áreas de cultivo no país, colaboram para a maior ocorrência da doença (Picinini & Fernandes, 1991).
Relatos de perdas causado pela doença no Brasil podem chegar a até 38% (Luz et al., 1993). A resistência genética aliada ao uso de sementes livres de patógeno parecem ser as medidas de controle mais eficazes.
Para a giberela (Gibberella zeae), muitos pesquisadores atribuem não haver efeito da rotação de cultura no controle da doença em função da existência de um grande número de hospedeiros do patógeno (Reis, 1990).
Galich & Galich (1996), relataram que na Argentina em anos favoráveis a doença, os valores máximos de perdas por giberela forma registrados naquelas lavouras semeadas sobre restos culturais de milho, com o trigo como antecessor. Severidade menor foi observada quando trigo foi semeado sobre restos culturais de soja.
Stack, (1997), relata que, nos Estados Unidos, 80% dos restos culturais de milho são ocupados por Fusarium graminearum, e que a rotação de cultura é uma importante ferramenta no manejo da doença. Em nossas condições, o grande incremento na área cultivada com milho em sistema plantio direto nos últimos anos pode estar contribuindo para o aumento da severidade da doença. O fato é que, existindo condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento do patógeno: temperatura alta (20 °C a 25 ºC), precipitação pluvial de no mínimo 48 horas consecutivas, as perdas, não só em quantidade, mas também em qualidade dos grãos são elevadas.
A rotação com culturas não suscetíveis aos diferentes patógenos se constitui em importante método de controle de doenças.
Controle das doenças por métodos biológicos
A agricultura sustentável é altamente dependente de estratégias de manejo de culturas que protejam o meio ambiente e não sejam tóxicas ao homem e aos animais. O controle biológico é uma dessas técnicas.
Os maiores sucessos no controle de doenças de trigo até o momento têm sido obtidos na microbiolização de sementes. A Embrapa Trigo, pioneiramente iniciou no país o controle dos patógenos importantes das sementes de trigo em 1991, objetivando aqueles organismos causadores das podridões das sementes, do tombamento, da morte de plântulas e das podridões radiculares.
Alguns desses organismos visavam também controlar os patógenos foliares que têm sementes como fonte de inóculo (Luz, 1993). Atualmente, cinco microorganismos estão disponíveis comercialmente no mundo para controle das doenças através da microbiolização das sementes (Luz, 1993), como Sporobolomyces roseus, Bacillus sp, Pseudomonas fluorescens e entre outros.
Controle de doenças por meio do controle químico
Embora os testes com fungicidas na cultura de trigo tivessem início na década de 70, a recomendação oficial de produtos para a cultura ocorreu no ano de 1976. As pulverizações, inicialmente preventivas, eram repetidas a intervalos de 10 a 14 dias. O produto mais utilizado na época era o carbamato mancozebe. Com o advento dos fungicidas sistêmicos as aplicações passaram a ser realizadas a estádios pré definidos (emborrachamento e floração).
Atualmente os fungicidas se constituem importante ferramenta para estabilizar a produtividade de trigo em regiões com alto impacto de doenças fúngicas como ocorre na região sul do Brasil (Picinini et al., 1993).
Antes do uso de qualquer produto químico devemos lembrar sempre que os patógenos são nutricionalmente dependentes do hospedeiro; os patógenos preferencialmente não se afastam do hospedeiro (esse processo garante a eles a sobrevivência); na luta contra os patógenos não se deve usar medidas isoladas.
Referências bibliográficas
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