O trabalho traz resultados sobre a atividade nematicida de óleo essencial de Melaleuca alternifolia, conhecida como árvore-do-chá (Tea Tree), é pertencente à família das Myrtaceae que possui aproximadamente 100 compostos ativos.
Introdução
O controle de nematoides parasitos de plantas é uma tarefa difícil, principalmente pelas limitações que a maioria dos métodos apresenta.
As medidas de controle baseadas na rotação de cultura para espécies do gênero Meloidogyne, apresenta algumas limitações, devido a grande habilidade deste parasito de se alimentar de um vasto número de plantas.
O uso de variedades resistentes, apesar de desejável, ainda é limitado, devido à escassez de cultivares resistentes e ao controle químico que não tem refletido em grande eficácia no campo. Dependendo da forma de uso, pode causar danos ao meio ambiente e ao homem.
Por estes motivos, a comunidade científica vem buscando métodos alternativos de controle. Um exemplo claro disso é a busca por compostos derivados de plantas, como óleos e extratos vegetais.
Estas substâncias têm sinalizando vantagens sobre pesticidas sintéticos, pois são menos concentrados e menos tóxicos. Além disso, são rapidamente biodegradáveis, apresentam um amplo modo de ação e são derivados de recursos renováveis.
Na literatura já existem vários estudos apontando o efeito nematicida e/ou nematostático destas substâncias sobre fitonematoides. Algumas até servem como base no desenvolvimento de bionematicidas.
O óleo de uma planta nativa da Austrália, tem sido alvo de estudos no controle fitonematoides.
Conhecida como árvore-do-chá (Tea Tree), é pertencente à família das Myrtaceae, à Melaleuca alternifolia e possuem aproximadamente 100 compostos ativos.
Entre eles estão: hidrocarbonetos, terpeno, monoterpenos, sesquiterpenos e álcoois associados. Segundo estudos, sua atividade biológica e antimicrobiana do óleo essencial é atribuída principalmente ao componente Terpinen-4-ol, componente majoritário do óleo (30-40%) (CARSON et al., 2006).
Poucos são os relatos na literatura que mostram a atividade de compostos do óleo essencial de M. alternifolia no controle de microrganismos parasitos de plantas, somente, no controle de patologias humanas e animais (MARTINS, et al., 2010).
Em função disto, o Instituto Phytus – RS em parceria com a Universidade Franciscana UNIFRA – RS, testou em condições de laboratório “in vitro”, a atividade nematicida e/ou nematostática do óleo essencial de M. alternifolia no controle de Meloidogyne javanica.
Material e Métodos
O essencial foi obtido comercialmente do Fabricante EVALAR, de Lote 2013003 e caracterizado em cromatografia gasosa (CG) no sistema Agilent Technologies 6890N CG – FID. Foram identificados 15 componentes presentes no óleo essencial, representando 95,86% da composição total do mesmo utilizado no estudo (Tabela 1).
Tabela 1 – Constituintes do óleo de M. alternifolia expressos em porcentagem. Traços (Tr); Índice de Retenção Experimental (IRE) com base na série homóloga de n-alcanos C7-C30; e Índice de Retenção da Literatura (Adams, 1995). ISO 4730.
O inóculo foi preparado a partir de massas de ovos de individuais obtidas de população monoespecífica de espécie Meloidogyne javanica provindas de plantas de soja infectadas do município de Santa Flora – RS. Plantas de Tomateiro (Lycopersicum sculetum L.) cv. Ogata fukuju cultivadas em vasos de 2 litros, contendo solo e areia, foram empregadas para a contínua multiplicação do patógeno em condições de sala de crescimento, com temperatura e umidade controladas.
Para obtenção dos juvenis de segundo estádio J2, foram utilizadas as metodologias propostas por Hussey & Barker (1973), adaptada por Boneti & Ferraz (1981).
A suspensão contendo juvenis e ovos, foi submetida à técnica de funil de Baermann modificado (CHRISTIE & PERRY, 1951), sendo incubadas em câmara de eclosão a 26 ºC por 36 h, para estimulo da eclosão dos ovos e obtenção dos juvenis.
A atividade nematicida do óleo essencial sobre J2 de M. javanica foi conduzida em placas de poliestireno de 24 poços, segundo a metodologia de Pérez et al. (2003) em concentrações alternadas de 5 mg/ml, 10 mg/ml, 15 mg/ml (Figura 1).
Em cada cavidade individual da microplaca, foi adicionado a suspensão de 1 mL de água contendo 120 juvenis de Meloidogyne javanica, e em seguida, adicionou-se à solução, conforme as concentrações correspondentes que foram calculadas baseada na densidade do O.E.
Como controles, foram utilizados a água destilada e Tween 20 (1%).
Em seguida, as placas foram vedadas com filme plástico, colocadas sob um agitador com movimento circular de aproximadamente 80 rpm e incubadas em sala de crescimento a temperatura de 26 ºC no escuro.
A contagem dos J2 moveis e imóveis foi realizada com o auxílio de microscópio óptico após 24 horas da incubação.
Para a melhor confirmação da mortalidade ou paralisação dos juvenis, transferiram-se os exemplares para uma placa de petri (4 cm de diâmetro) e, em seguida, visualizados em microscópio ótico no aumento de 40x, para verificar o mínimo movimento.
Os juvenis de M. javanica foram considerados mortos quando imóveis (CAYROL et al., 1989) (Figura 2).
A porcentagem de mortalidade foi calculada pela equação: J2 mortos (%) = (J2 mortos x 100) / (J2 mortos + J2 vivos).
Foram realizadas duas repetições por concentração.
Para confirmar a atividade nematicida do óleo os Juvenis foram coletados e transferidos para placas de Petri contendo água destilada e monitorado por 24 h.
Resultados e Discussão
O resultado do ensaio in vitro mostrou que todas as concentrações testadas apresentaram ação nematicida sobre os juvenis J2 de M. javanica quando comparadas a testemunha.
Na curva de mortalidade foi possível remeter ao óleo essencial de M. alternifolia uma ação inversamente proporcional entre concentração de O.E. e tempo de mortalidade.
Comprovando assim, que, quanto maior a concentração, menor o tempo para a indução de mortalidade do patógeno.
As concentrações de 5, 10 e 15 mg/mL proporcionaram uma mortalidade de 100% em 20, 20 e 16 horas, respectivamente (Gráfico 1).
Letras maiúsculas indicam diferenças significativas do mesmo tratamento em diferentes períodos de tempo (P <0,05).
Os resultados obtidos neste experimento vão de encontro a outros trabalhos já desenvolvidos por vários pesquisadores que evidenciaram o potencial efeito de substâncias extraídas de plantas na mortalidade de fitonematoides.
De acordo com Carson e Riley (1995) a atividade antimicrobiana é dependente do composto Terpinen-4-ol, composto principal e ativo do óleo de M. alternifolia, garantindo que quanto maior a quantidade encontrada no óleo essencial, melhor será sua ação. O mesmo composto possui a ação anti-inflamatória (HART et al, 2000).
Entretanto, outros constituintes possuem a mesmas propriedades antimicrobianas, como o ?-terpineno, o ?-terpineno (BURT, 2004) e o 1,8-cineol (ALBORNOZ, 1992).
O óleo de M. alternifolia deve causar uma interferência no metabolismo dos juvenis de M. javanica inibindo funções vitais, atuando sinergicamente através da membrana, podendo ocasionar sua ruptura, e/ou afetar o sistema nervoso.
Estas ações podem explicar a mortalidade dos juvenis.
Entretanto, estudos futuros em condições similares de cultivos deverão ser realizados para entender melhor a dinâmica do óleo de Melaleuca alternifolia no controle de M. javanica.
Além disso, a utilização combinada de produtos biológicos com químicos pode ser uma alternativa para reduzir a concentração destes últimos, sem perder a eficácia.