Neste material você vai conhecer aspectos importantes sobre Brusone em Trigo como:
– Importância da cultura e o impacto da doença;
– Etiologia;
– Sintomas de Brusone em Trigo;
– Medidas de Controle.
Importância
A cultura do trigo (Triticum aestivum) é amplamente adaptada em todo o mundo, sendo o segundo cereal mais cultivado, atrás somente da cultura do milho. O seu produto, o grão de trigo, é largamente empregado para a alimentação humana e animal, apresentando uma função econômica e social. A produção brasileira na safra 2016 foi de 6.726,8 mil toneladas, ocupando uma área de 2.118,4 mil hectares, obtendo, portanto, uma produtividade de 3.175 kg/ha (CONAB, 2017).
Estima-se que 25 a 35% da safra de trigo seja perdida por estresses abióticos e bióticos, sendo este último devido a muitas pragas e doenças. Estas doenças são causadas principalmente por bactérias, fungos e vírus, sendo que suas ocorrências são consideradas comuns devido a seus agentes serem componentes naturais do ambiente (BOCKUS, 2010).
A brusone, também chamada de branqueamento da espiga, é uma das principais doenças da triticultura, principalmente pelos danos que acomete e pela falta de fungicidas eficazes e cultivares resistentes, ocasionando reduções de rendimento e de qualidade de grãos. É amplamente influenciada pelas condições ambientais, favorecida por chuvas frequentes e contínuas a partir do início do emborrachamento, ou seja, a umidade é o fator mais importante para que ocorra a infecção (BOCKUS, 2010).
Etiologia
Essa doença é causada pelo fungo telemorfo Magnaporthe grisea (Hebert) Barr. [anamorph Pyricularia grisea (Cooke) Sacc.], cujo ciclo é apresentado na figura 1, sendo que as mesmas espécies provocam a brusone, porém existem diferenças entre os organismos causais, de modo que a fase teleomorfa é dificilmente encontrada, apenas em laboratório (BOCKUS, 2010).
Este fungo apresenta diversos hospedeiros, várias gramíneas nativas, invasoras e cultivadas, como por exemplo, o arroz e a cevada. Alguns exemplos de invasoras em que Pyricularia é encontrada são a Brachiaria plantaginea, Cenchrus echinatus, Digitaria horizontalis, D. sanguinalis, Echinocloa crusgali, Eleusine indica, Lolium multiflorum, entre outros. (URASHIMA, 2004). O patógeno é capaz de sobreviver, além destes hospedeiros alternativos, em restos de cultura e em sementes, na forma de micélio ou conídio (LIMA, 2004).
Algumas condições climáticas são favoráveis para o desenvolvimento deste fungo, como dias nublados, temperaturas entre 24 e 28ºC, precipitações frequentes e umidade relativa acima de 90%, sendo este último considerado o fator mais importante para a infecção. O vento é a principal forma de disseminação do patógeno, através de esporos, que são leves, permitindo assim o transporte a longas distâncias (LIMA, 2004).
Sintomas de Brusone em Trigo
Em termos gerais, o patógeno é capaz de causar lesões em todas as partes do trigo acima do solo, como folhas, colmos, bainhas, nós, pedúnculo, glumas, aristas e sementes. Mas, as infecções das espigas são as mais importantes, pois resultam em maiores danos.
As lesões nas folhas variam muito em tamanho e formas (geralmente elípticas), dependendo muito da idade da planta, com comprimento de 2 a 25 mm e largura de 1 a 2 mm. Estas possuem no centro coloração cinza a avermelhada e margens cor marrom-escuro (BOCKUS, 2010).
Nas espigas as lesões aparecem na ráquis (Figuras 2 e 3), apresentando coloração de marrom ao preto brilhante, marcada por pontos necróticos, com dimensões indefinidas.
Normalmente, acima do ponto de infecção do patógeno, toda a espiga morre, descolorindo, tornando-se cor de palha a esbranquiçada e pode ser claramente distinguida pela coloração contrastante da parte saudável abaixo do ponto de infecção (Figura 4).
A partir desta lesão, há uma interrupção da translocação de nutrientes e água para a espiga, de forma a impedir o enchimento dos grãos, resultando em grãos chochos. Quando esta infecção for precoce, pode impedir totalmente o desenvolvimento de grãos (BOCKUS, 2010). De acordo com Toledo (2004), em ataques severos pode-se observar mais de um ponto de infecção por ráquis.
A colonização de tecidos do hospedeiro é facilitada pela produção de toxinas, que provocam a morte de células, e pelas hifas, que se desenvolvem no tecido morto (LIMA, 2004).
Medidas de Controle
Em função de a brusone ser uma doença de difícil controle e de grandes danos, exige-se um controle eficiente, através do uso de estratégias conjugadas realizadas em momentos oportunos. A melhor estratégia para o controle é a associação da resistência da cultivar com as práticas agronômicas adequadas. A manipulação da resistência genética fornece o método mais economicamente viável, ambientalmente segura e sustentável do controle do patógeno (BOCKUS, 2010).
Algumas práticas agronômicas podem complementar o manejo desta doença. O manejo da época da semeadura auxilia, de modo que o atraso desta pode ser uma possibilidade de evitar o período de ambientes críticos (alta umidade e temperatura) na fase de emborrachamento e espigamento, reduzindo assim a incidência (GOULART, 2007). Recomenda-se também a eliminação dos hospedeiros, e a rotação de culturas com culturas não hospedeiras.
O uso de fungicidas pode ser uma ferramenta a ser utilizada para o controle integrado da doença, porém, não tem se mostrado eficiente sob condições de campo. Este fato esta atribuído principalmente pela dificuldade de deposição dos fungicidas nos sítios de infecção, e também as condições climáticas e o momento de aplicação. Alguns fungicidas utilizados em tratamento de sementes podem auxiliar a eliminar o patógeno a partir das sementes (BOCKUS, 2010). Consorciado com isso, o uso de sementes sadias também é uma estratégia, devido às sementes poderem ser uma importante fonte de inóculo primário.
Referências Bibliográficas
BOCKUS, William W., et al. Compendium of wheat diseases and pests. No. Ed. 3. American Phytopathological Society (APS Press), 2010.
CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento. Acomp. safra bras. grãos, v. 4 Safra 2016/17 – Décimo levantamento, Brasília, p. 1-171 julho 2017. Disponível em: http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/17_07_12_11_17_01_boletim_graos_julho_2017.pdf
GOULART, A. C. P.; SOUSA, P. G.; URASHIMA, A. S. Danos em trigo causados pela infecção de Pyricularia grisea. Summa phytopathol. Vol. 33 no.4 Botucatu Oct./Dec. 2007.
LIMA, M.I.P.M. GIBERELA OU BRUSONE? ORIENTAÇÕES PARA A IDENTIFICAÇÃO CORRETA DESSAS ENFERMIDADES EM TRIGO E EM CEVADA. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 2004. 56 p. html. (Embrapa Trigo. Documentos Online; 40). Disponível em:
TOLEDO, J.; Enfermedades. In: DÍAZ, O.; GUZMÁN, E.; TOLEDO, J.; FRANCO, P.; TERRAZAS, D.; ANTEZANA, A. Guía de recomendaciones técnicas del cultivo de trigo. Santa Cruz- Bolívia. 2004. 73p.
URASHIMA, A. S. et al. Resistance spectra of wheat cultivars and virulence diversity of Magnaporthe grisea isolates in Brazil. Fitopatologia Brasileira, v. 29, n. 5, p. 511-518, 2004.