Neste material você irá encontrar aspectos importantes sobre a ocorrência de grãos ardidos em milho como:
- Podridão Branca da Espiga
- Podridrão Rosada da Espiga
- Podridão da Ponta da Espiga
- Produção de Micotoxinas
- Micotoxicoses
- Estratégias de Manejo de Grãos Ardidos
Introdução
Nos últimos anos, notadamente a partir do final de década de 90, as doenças têm se tornado uma grande preocupação por parte de técnicos e produtores envolvidos no cultivo do milho. Relatos de perdas na produtividade devido ao ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras do país.
É importante entendermos que a evolução das doenças do milho está estreitamente relacionada à evolução do sistema de produção desta cultura do Brasil. Modificações ocorridas no sistema de produção, que resultaram no aumento da produtividade da cultura, foram, também, responsáveis pelo aumento da incidência e da severidade das doenças.
Desse modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), a adoção do sistema de plantio direto, o aumento do uso de sistemas de irrigação, a ausência de rotação de cultura e o uso de materiais suscetíveis têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos, resultando no surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura relacionados à ocorrência de doenças (Zambolim et al., 2000).
Neste caso, os fungos causadores de podridões do colmo e da espiga têm ganhado destaque nos últimos anos pelo aumento de sua incidência e pelas perdas provocadas na produtividade, por afetarem diretamente a qualidade do produto final.
De acordo com a Instrução Normativa n° 60 do MAPA de 22/12/2011 que revoga as nº 845, de 8 de novembro de 1976, e a Portaria SDR nº 11, de 12 de abril de 1996, estabelece o Regulamento Técnico para Cultura do Milho, “os grãos ou pedaços que se apresentam atacados por insetos considerados pragas de grãos armazenados em qualquer de suas fases evolutivas” são classificados como Carunchados.
Já os considerados Avariados “são os grãos que se apresentarem mofados, gessados, germinados, fermentados, imaturos, chochos ou ardidos”. Sendo que “serão considerados ardidos os grãos ou pedaços que apresentam escurecimento total, por ação do calor, umidade ou fermentação avançada atingindo a totalidade da massa do grão, sendo também considerados como ardidos, devido à semelhança de aspecto, os grãos totalmente queimados”.
Inicialmente, era para esta IN entrar em vigor em 01/07/2012, porém a Portaria do MAPA n° 611 de 04/07/2012 prorroga e estabelece o início em vigor a partir de 1° de setembro de 2013. Assim, os limites máximos de tolerância para cada tonelada de grão são expressos em porcentagem na Tabela 1.
Tabela 1 – Limites máximos de tolerância expressos em percentual (%).
Os grãos ardidos em milho são o reflexo das podridões de espigas, causadas principalmente pelos fungos presentes no campo. Esses fungos podem ser divididos em dois grupos: aqueles que podem apenas produzir grãos ardidos; e aqueles que, além da produção de grãos ardidos, são biossintetizadores de micotoxinas.
No primeiro grupo, encontram-se os fungos Drechslera zeicola, Cladosporium herbarum, Ustilago maydis, Nigrospora oryzae, Colletotrichum graminicola, entre outros. No segundo grupo, são encontrados os fungos Stenocarpella maydis (=Diplodia maydis), Stenocarpella macrospora (=Diplodia macrospora), Fusarium verticillioides (=Fusarium moniliforme), F. subglutinans, F. graminearum, F. sporotrichioides e Gibberella zeae.
Ocasionalmente no campo pode haver produção de grãos ardidos e de micotoxinas pelos fungos Penicillium oxalicum, Aspergillus flavus e A. parasiticus. Os fungos F. graminearum, F. sporotrichioides e Stenocarpella maydis são mais freqüente nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul; e F. verticillioides, F. subglutinans e Stenocarpella macrospora nas demais regiões produtoras de milho (Pinto, 2005; Mario; Reis, 2001).).
Para espécies do gênero Fusarium, como F. verticillioides, F. graminearum, F. sporotrichioides, F. nivale, F. culmorum, F. poae, F. proliferatum, entre outras, requerem nos grãos umidades acima de 20% para o seu desenvolvimento. Já para promoverem a podridão na espiga, predomina em anos em que prevalecem condições úmidas após a polinização ou onde ocorrem seca ou danos de insetos nas espigas (Pinto, 2005).
Como principais fontes de inóculo de Fusarium spp., têm-se os restos de cultura de milho, como colmos e espigas, as sementes de milho contaminadas, as gramíneas de inverno (trigo, aveia e cevada) e também o solo. A disseminação dos esporos se dá através do vento e de insetos e o período de maior suscetibilidade ocorre de 7 a 10 dias após a polinização dos estigmas (Pinto, 2005).
Sintomatologicamente, pode ocorrer uma pigmentação rosa (F. verticillioides) ou roxa (F. graminearum) entre os grãos, sendo que as espigas que não dobram após a maturidade fisiológica dos grãos e aquelas com mal empalhamento, são as mais suscetíveis. Quando ocorrem fortes chuvas após o estádio da maturidade fisiológica dos grãos e também há a postergação na colheita do milho, normalmente a incidência de grãos ardidos supera esse limite de tolerância máxima, cujos valores têm atingido freqüentemente 10 a 20% em algumas cultivares (Pinto, 2005).
Podridão Branca da Espiga
A podridão branca da espiga é causada pelos fungos Stenocarpella maydis e S. macrospora. As espigas infectadas apresentam os grãos de cor marrom, de baixo peso e com crescimento micelial branco entre as fileiras de grãos (Figura 1).
No interior da espiga ou nas palhas das espigas infectadas, há a presença de numerosos pontos negros (picnídios), que são as estruturas de frutificação do patógeno (Figura 2).
Uma característica peculiar entre as duas espécies de Diplodia é que apenas a S. macrospora ataca as folhas do milho (Pinto; Santos; Wruck, 2006) (Figura 3).
A precisa distinção entre essas espécies só é possível mediante análises microscópicas, pois comparativamente os esporos de S. macrospora são maiores e mais alongados do que os de S. maydis (Casa, R. T., Reis, E. M.; Zambolim, L., 2006).
Os esporos desses fungos sobrevivem dentro dos picnídios no solo e nos restos de cultura contaminados e, nas sementes, na forma de esporos e de micélio dormente, sendo essas fontes primárias de inóculo para a infecção das espigas.
A infecção geralmente inicia na base da espiga e avança até o ápice. No entanto, as espigas mal empalhadas ou com palhas frouxas ou que não se dobram após a maturidade fisiológica são as mais suscetíveis.
A alta precipitação pluviométrica na época da maturação dos grãos favorece o aparecimento dessa doença. A evolução da podridão praticamente cessa quando o teor de umidade dos grãos atinge 21 a 22% em base úmida.
O manejo integrado para o controle desta podridão de espiga envolve a utilização de cultivares resistentes; de sementes livres dos patógenos; da destruição de restos culturais de milho infectados; e da rotação de culturas, visto que o milho é o único hospedeiro desses patógenos (Pinto, 2001).
Podridrão Rosada da Espiga
É causada por Fusarium moniliforme ou por Fusarium subglutinans apresentando elevado número de plantas hospedeiras, sendo considerados parasitas não especializados. A infecção pode se iniciar pelo topo ou por qualquer outra parte da espiga, mas sempre associada a alguma injúria (insetos, pássaros) (Figura 4).
Com o desenvolvimento da doença, uma massa cotonosa avermelhada pode recobrir os grãos infectados ou a área da palha atingida. Em alguns grãos, pode haver o aparecimento de estrias brancas no pericarpo causadas pela ação do fungo. Quando a infecção ocorre através do pedúnculo da espiga, todos os grãos podem ser infectados, mas a infecção só se desenvolverá naqueles que apresentarem alguma injúria no pericarpo (Reis et. al,2004. Pereira, 1997).
Quando o teor de umidade dos grãos atinge 18 a 19% paralisa o desenvolvimento do patógeno, em base úmida. Embora esses fungos estejam, frequentemente, associados as sementes, essas não são a principal fonte de inóculo. Como os fungos possuem a fase saprofítica ativa, sobrevivem e se multiplicam na matéria orgânica, no solo, sendo essa a fonte principal de inóculo.
Podridão da Ponta da Espiga
É causada pelo patógeno Gibberella zeae, comum em regiões de clima ameno e de alta umidade relativa, principalmente com ocorrência de chuvas após a polinização. A doença inicia-se com uma massa cotonosa avermelhada na ponta da espiga e pode progredir para a base da espiga.
A palha pode ser colonizada pelo fungo e tornar-se colada na espiga. Ocasionalmente, essa podridão pode iniciar-se na base e progredir para a ponta da espiga, confundindo o sintoma com aquele causado por Fusarium moniliforme ou F. subglutinans (Pinto, 2001).
Chuvas freqüentes no final do desenvolvimento da cultura, principalmente em lavoura com cultivar com espigas que não dobram, aumentam a incidência dessa podridão de espiga. Esse fungo sobrevive nas sementes na forma de micélio dormente. A forma anamórfica de G. zeae é denominada Fusarium graminearum.
Produção de Micotoxinas
A infecção dos grãos de milho podem ocorrer em duas condições específicas, isto é, em pré-colheita (podridões de espigas com a formação de grãos ardidos) e em pós-colheita dos grãos durante o beneficiamento, armazenamento e transporte (grãos mofados ou embolorados) (Pinto, 2003).
No processo de colonização dos grãos, muitas espécies denominadas de fungos toxigênicos, podem além dos danos físicos (descolorações dos grãos, reduções nos conteúdos de carboidratos, de proteínas e de açúcares totais) podem produzir substâncias tóxicas denominadas de micotoxinas. É importante ressaltar que, a presença do fungo toxigênico não implica necessariamente na produção de micotoxinas, as quais estão intimamente relacionadas à capacidade de biossíntese do fungo e das condições ambientais predisponentes, como em alguns casos, da alternância das temperaturas diurna e noturna (EMBRAPA, 2005).
As perdas qualitativas por grãos ardidos são motivos de desvalorização do produto e uma ameaça à saúde dos rebanhos e à humana. O gênero Fusarium tem uma faixa de temperatura ótima para o seu desenvolvimento situada entre 20 a 25 ºC. Contudo, suas toxinas são produzidas a temperaturas baixas (Pinto, 2001).
Fungo do gênero necessita de temperaturas em torno de 25ºC para crescer, mas para a biossíntese das toxinas é necessário que as temperaturas sejam mais amenas ou frias, geralmente abaixo de 16-18ºC e o teor de umidade mais elevado para se desenvolver (Jay, 2005, Julliatti, 2007). Isso significa que Fusarium produz as micotoxinas sob o efeito de choque térmico, principalmente com alternância das temperaturas diurna e noturna.
As principais micotoxinas que têm sido relatadas contaminando o milho na pré-colheita são as aflatoxinas (Aspergillus flavus e A. parasiticus), a ocratoxina (Aspergillus ochraceus) e as toxinas de Fusarium: zearalenona (produzida por F. graminearum e F. roseum ), deoxinivalenol – DON ou vomitoxina (F. graminearum e F. verticillioides), toxina T-2 (F. sporotrichioides) e as fumonisinas (F. verticillioides, F. subglutinans e F. proliferatum). O gênero Fusarium é, basicamente, constituído de fungos de campo que geralmente infectam os grãos de milho em pré- colheita. As fumonisinas (B1, B2, B3, B4 e C1) são o resultado da ação de Fusarium subglutinans, F. verticillioides e F. proliferatum em grãos de milho (Pinto, 2005)
Micotoxicoses
Micotoxicoses é o nome dado às enfermidades causadas pelos fungos que acometem humanos e animais, por metabólitos secundários tóxicos (micotoxinas) que são produzidos por algumas espécies fúngicas (Gimeno e Martins, 2007). As micotoxicoses podem promover, nos animais domésticos e em humanos, danos como redução no crescimento, interferências nas funções vitais do organismo, produção de tumores malignos, entre outrs (EMBRAPA, 2005).
Para citar alguns exmplos, o efeito tóxico das aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2), denominado de aflatoxicose, pode ser de curta duração (aflatoxicose aguda) ou de longa duração (aflatoxicose crônica). Bovinos, suínos e aves podem ingerir rações formuladas com grãos de milho contaminadas com aflatoxinas, converter a toxina em seus metabólitos tóxicos, os quais entrarão na cadeia alimentar humana via consumo de leite, carne e ovos. Quando grãos de milho tornam-se contaminados com aflatoxinas, por exemplo, a aflatoxina B1, que é um carcinógeno, pode, via arraçoamento animal, ser convertida em outro carcinógeno potencial (aflatoxina M1) e ser liberada no leite (Pinto, 2005).
A contaminação por fumonisinas (B1, B2, B3, B4, A1 e A2.) em grãos de milho é extremamente maléfica à alimentação de suínos (edema pulmonar) e em eqüinos (leucoencefalomalácea – a toxina destrói as células cerebrais, formando grandes orifícios no cérebro do animal) (Pinto, 2005). As fumonisinas têm sido, em humanos, associadas com a incidência de câncer do esôfago.
Por outro lado, os suínos, bovinos, aves e ovelhas são muito sensíveis à zearalenona, a qual causa o hiperestrogenismo em suínos, pois a sua molécula é semelhante à da progesterona (hormônio feminino). Quanto à toxina T-2, ela causa má formação óssea nas pernas de frangos de corte.
Estratégias de Manejo de Grãos Ardidos
- A prevenção contra a infecção dos grãos de milho por fungos promotores de grãos ardidos deve levar em consideração um conjunto de medidas:
- Cultivares de milho resistentes/tolerantes aos fungos dos gêneros Fusarium e Stenocarpella.
- Rotação de culturas com espécies de plantas não suscetíveis (evitar principalmente gramíneas).
- Sementes são as principais fontes de inóculo: qualidade sanitária e fungicida.
- Não utilizar altas densidades de plantio.
- Evitar desbalanço N – K, irrigação no florescimento e danos por insetos nas espigas.
- Preferência a híbridos com bom empalhamento de espiga.
- Utilização de cultivares de milho com espigas que dobram após a maturidade fisiológica dos grãos pode auxiliar.
- Não retardar a colheita e/ou colher espigas de plantas tombadas.
- Quando possível, realizar o enterrio de restos de culturas de milho infectados.
- Programa de controle com fungicidas: folha limpa reduz inóculo para espiga.