Neste material, você irá conhecer um pouco mais sobre:
- As pragas que afetam a soja
- A aplicação da análise genética para o manejo de doenças da soja
A soja (Glycine max) é uma das principais culturas brasileiras. Grande parte das áreas cultivadas do Brasil é destinada ao seu cultivo, sendo elas concentradas especialmente em doze estados, pertencentes às regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Na safra 2020/2021, a produção mundial de soja chegou a 362,947 milhões de toneladas. O Brasil foi o principal produtor, sendo responsável por 135,409 milhões de toneladas, equivalente a aproximadamente 37% do total produzido no mundo (EMBRAPA, 2021).
Apesar da significância mundial dessa cultura, os produtores de soja enfrentam uma série de desafios durante o seu cultivo. Estes desafios incluem o próprio clima, as pragas e as doenças da soja, e ameaçam a produtividade, pois estão associados com grandes perdas econômicas.
Bactérias
Algumas bactérias são patógenos importantes da soja. Entre elas destaca-se a espécie Pseudomonas savastanoi pv glycinea. Esta bactéria causa o crestamento bacteriano, cujo principal sintoma são manchas de tamanho pequeno e com aspecto translúcido nas folhas, contendo um halo amarelo e que podem se tornar necroses. As manchas apresentam um aspecto escuro nas partes inferiores das folhas e possuem uma película brilhante. Estes sintomas são mais comuns em folhas jovens (VILASBÔAS, 2009).
A transmissão desta bactéria para a soja dá-se pelas sementes já contaminadas por ela ou por restos de cultivos anteriores presentes no solo. Há várias estratégias que podem ser adotadas no controle, incluindo o uso de cultivares resistentes, a seleção de sementes, o preparo do solo e a rotação de culturas.
Fungos
Entre os principais patógenos que causam doenças na soja destacam-se os fungos. Duas espécies merecem destaque: Phakopsora pachyrhizi e Erysiphe difusa. P. pachyrhizi causa a ferrugem asiática da soja, a qual provoca a desfolha precoce e previne a formação dos grãos. Este fungo é transmitido pelo vento, causando infecções em qualquer estado fenológico da soja. As condições ideais para a infecção são entre 6 e 24 horas de água livre e temperaturas entre 15 e 25 ºC (FURTADO et al., 2009).
E. difusa causa o oídio, cujos sintomas são uma coloração branca amarelada nas partes aéreas e desfolha precoce. Como na ferrugem asiática, o oídio pode infectar qualquer estágio fenológico da soja, ainda que seja mais comum durante a floração. Porém, E. difusa só se desenvolve na planta. Portanto, restos culturais não estão envolvidos na sua transmissão, que ocorre por meio de plantas remanescentes ou por hospedeiros alternativos (PERINA, 2011).
Nematoides
Outro tipo importante de praga agrícola são os nematoides. Entre eles, destacam-se os nematoides-das-galhas. Esses organismos pertencem a várias espécies do gênero Meloidogyne, que se caracterizam por produzirem galhas de tamanho variados, nas quais as fêmeas destes nematoides se encontram alojadas. Além da produção das galhas, o subdesenvolvimento e a clorose em reboleiras são outros sintomas comuns. Os nematoides-das-galhas são relatados por todos os estados produtores de soja, mas com algumas diferenças. Tais diferenças refletem culturas anteriores que são hospedeiras alternativas destes organismos, uma vez que os nematoides do gênero Meloidogyne infectam uma grande variedade de plantas.
Insetos
Entre os insetos que afetam a soja, o destaque recai sobre as lagartas. Há várias espécies importantes, mas a principal é provavelmente a espécie Anticarsia gemmatalis ou lagarta-da-soja. Esta lagarta apresenta uma coloração verde e estrias brancas na parte superior do corpo. Como todas as lagartas, ela age consumindo as plantas, especialmente as partes centrais das folhas (SOSA-GÓMEZ et al., 2010).
Estratégias de manejo
Desta breve exposição de alguns dos organismos que infectam e causam vários problemas na soja, percebe-se a importância do controle de pragas para o produtor dessa cultura. Neste sentido, é importante, dentro de um contexto de práticas agrícolas mais sustentáveis e que visam a uma maior eficiência, a capacidade de diagnosticar adequadamente a presença destes organismos prejudiciais em uma lavoura. Além disso, também é fundamental avaliar os potenciais naturais de um solo em relação com a supressividade a estes patógenos.
Estas informações podem ser obtidas através do emprego de ferramentas de análise genética de solo. Uma destas ferramentas é chamada de qPCR – técnica que permite a identificação e a quantificação de um ou mais organismos-alvo em uma amostra e tem sido usada há muito tempo no diagnóstico de patógenos humanos, de animais e de vegetais cultivados.
Por outro lado, ferramentas de metagenômica podem ser usadas para obter-se uma visão mais completa de um solo em relação com os seus atributos benéficos e maléficos. Neste caso, pode-se detectar a presença de espécies ou gêneros de organismos patogênicos e, simultaneamente, avaliar o potencial de supressividade deste solo.
Muitas vezes há a presença de um patógeno no solo, porém, devido a sua supressividade, ele não se desenvolve ou infecta a planta. Aplicar um defensivo agrícola neste solo não só seria uma perda do ponto de vista ambiental, como seria um desperdício de recursos. Destaca-se, ainda, que as mesmas ferramentas podem ser utilizadas para a avaliação de patógenos que não sobrevivem no solo, como o fungo E. difusa, causador do oídio. Neste caso, os próprios vegetais seriam analisados pelas técnicas genéticas para a detecção desses organismos.
Referências
EMBRAPA. Soja em números: safra 2020/21. Disponível em: https://www.embrapa.br/soja/cultivos/soja1/dados-economicos. Acessado em 27/12/21
FURTADO, G. Q.; ALVES, S. A. M.; CARNEIRO, L. C.; GODOY, C. V.; MASSOLA JÚNIOR, N. S. Influência do estádio fenológico e da idade dos trifólios de soja na infecção de Phakopsora pachyrhizi. Tropical Plant Pathology, v. 34, n. 2, p. 118-122, 2009.
PERINA, F. J. Controle de Erysiphe difusa com óleos essenciais e leite: estudos ultraestrutural e do modo de ação. 2011. Dissertação (Pós-graduação em Agronomia, área de concentração em Fitopatologia) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2011.
SOSA-GÓMEZ, D. R. et al. Soja: manejo integrado de pragas. Curitiba: SENAR-PR, 2010.
VILASBÔAS, Fernanda da Silva. Seleção de biocontroladores de pseudomonas savastanoi pv. glycinea em soja. 2009. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Agronomia) – Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2009.