Neste material você vai entender um pouco mais sobre:
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Características e impacto da buva na produtividade da soja
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Resistência da buva às herbicidas
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Manejo antirresistência
Características e impacto da buva na produtividade da soja
A buva é uma planta anual ou bianual da família Asteraceae e constitui uma das principais plantas daninhas que ocorrem na cultura da soja. As três espécies da buva com importância no Brasil incluem Conyza bonariensis, C. canadensis e C. sumatrensis. Essas plantas apresentam o hábito de crescimento ereto, atingindo até 2,5m de altura. Cada planta pode produzir mais de 200 mil sementes, as quais são facilmente disseminadas pelo vento. As sementes germinam em temperaturas entre 20 e 25ºC e sua germinação é dependente de luz (fotoblástica positiva).
Perdas elevadas de produtividade têm sido observadas mesmo sob as baixas densidades da buva nas fases iniciais da cultura da soja. Estudos conduzidos pelo grupo Supra Pesquisa mostraram reduções que variaram de 14% (9,4 sc/ha) a 59% (40,1 sc/ha), com populações de uma a dez plantas da buva/m2, respectivamente.
Resistência da buva aos herbicidas
O desenvolvimento dos materiais da soja tolerantes ao glifosato (Roundup Ready, RR), trouxe muitos benefícios ao sistema de produção, viabilizando a semeadura direta e reduzindo as perdas causadas pela matocompetição, por possibilitar o uso de um herbicida não seletivo em pós-emergência. Contudo, o uso do glifosato como única ferramenta de controle das plantas daninhas e as aplicações do herbicida em doses inadequadas sobre plantas em estágios de desenvolvimento avançados, contribuiu para que algumas, incluindo a buva, se tornassem ainda mais resistentes.
O primeiro relato de resistência da buva ao herbicida inibidor da enzima enol-piruvil-chiquimato-fosfato sintase (EPSPS, glifosato) no Brasil, ocorreu em 2005. Desde então, plantas de buva resistentes a outros mecanismos de ação, incluindo herbicidas inibidores da acetolactato sintase (ALS, clorimuron-etílico), do fotossistema I (paraquat, Figura 1), do fotossistema II (diuron), da protoporfirinogênio oxidase (PROTOX, saflufenacil) e mimetizadores da auxina (2,4-D), foram registradas. Dessa forma, a buva apresenta resistência a pelo menos seis mecanismos de ação. Além da identificação das plantas da buva resistentes a um único mecanismo de ação, existem biótipos com resistência múltipla, ou seja, genótipos que apresentam resistência a diferentes mecanismos de ação (Figura 2).
Figura 1. Planta da buva suscetível (esquerda) e resistente (direita) ao herbicida paraquat, que teve seu uso banido recentemente. Fonte: autor.
Figura 2. Linha do tempo mostrando a evolução das plantas da buva (Conyza spp.), resistentes aos herbicidas e com diferentes mecanismos de ação. Os sinais positivos (+) indicam biótipos com resistência a mais de um mecanismo de ação (resistência múltipla). Fonte: Adaptado de WeedScience.
Manejo antirresistência
A adoção do manejo integrado, ou seja, de múltiplas estratégias de controle, é de suma importância para evitar o aumento da frequência dos biótipos da buva resistentes a herbicidas, além de conter a disseminação desses biótipos para outras áreas Entre as práticas de manejo, destacam-se as seguintes:
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Monitoramento da área: plantas com suspeita de resistência devem ser arrancadas e destruídas, a fim de evitar a produção das sementes e sua subsequente disseminação para outras áreas;
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Rotação dos mecanismos de ação: herbicidas com diferentes mecanismos de ação devem ser utilizados a fim de diminuir a pressão da seleção para a resistência. Nesse caso, o uso dos herbicidas pré-emergentes têm um papel fundamental, pois existe uma escassez das ferramentas de controle em pós-emergência na soja. A rotação das culturas é uma medida importante, por viabilizar o uso dos herbicidas diferentes daqueles empregados na soja;
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Manejo de inverno: o cultivo dos cereais de inverno, comuns no sul do Brasil, também permite o uso de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, com destaque para iodosulfuron-metílico, metsulfuron-metílico e 2,4-D, em áreas onde biótipos resistentes a esses ingredientes ativos não estejam presentes;
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Controle cultural: o cultivo das plantas que produzem elevada quantidade de palha na entressafra da soja, principalmente as gramíneas, diminui o fluxo de emergência da buva, em virtude dessa planta daninha ser fotoblástica positiva.
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Limpeza de máquinas: embora o vento possa disseminar as sementes da buva a longas distâncias, máquinas e equipamentos agrícolas, incluindo tratores, semeadoras e colhedoras, constituem importantes agentes de disseminação, transportando sementes entre as lavouras de uma mesma região ou mesmo entre regiões. Portanto, torna-se imprescindível a sua limpeza antes da realização das operações em novas áreas.
Referências
Heap, I. The International Herbicide-Resistant Weed Database. Online. Disponível em: www.weedscience.org. Acesso: 10 de março de 2022.