Os nematoides do gênero Meloidogyne (Figura 1) são endoparasitas sedentários. Constituem-se no grupo de nematoides mais danoso, agressivo e economicamente importante da agricultura mundial, em razão do seu alto grau de polifagia e das elevadas perdas econômicas provocadas pelo parasitismo de raízes de várias culturas em todo o mundo.
Figura 1: Registro de diferentes estádios do nematoide Meloidogyne spp. visto em lâmina de Peters sobre microscopia. Imagem: Jorge Bleno da Silva Verssiani.
Em todo o mundo, existem quatro espécies de nematoides-das-galhas de ampla distribuição em diferentes culturas: M. incognita, M. javanica, M. arenaria e M. hapla Chitwood, 1949 (Min et al., 2012; Elling, 2013; Suresh et al., 2019).
As principais espécies presentes no Brasil atualmente são:
M. arenaria,
M. coffeicola Lordello & Zamith, 1960,
M. enterolobii Yang & Eisenback 1983,
M. ethiopica Whitehead 1968,
M. exigua,
M. graminicola Golden & Birchfield 1965,
M. hapla,
M. hispanica Hirschmann 1986,
M. incognita,
M. javanica, Goeldi 1887,
M. luci Carneiro et al., 2014,
M. morocciensis Rammah & Hirschmann 1990,
M. paranaensis Carneiro, Carneiro, Abrantes, Santos & Almeida 1996, e
M. petuniae Charchar, Eisenback & Hirschmann 1999 (Carneiro et al., 2016).
Sendo M. javanica e M. incognita consideradas como altamente prejudiciais às culturas de grãos, em especial a soja (Oliveira et al., 2018).
Os nematoides-das-galhas passam a maior parte do seu ciclo de vida ativo no interior das raízes das plantas, e por essa razão são denominados de endoparasitas sedentários. Cada fêmea adulta realiza em média a postura de 400 a 500 ovos em uma matriz gelatinosa, garantindo o sucesso da espécie. Além das fases de fêmea adulta e ovo, também existem quatro estádios juvenis que ocorrem por meio da troca de cutícula desses nematoides, chamadas de ecdises ou mudas (Abad et al., 2009).
O ciclo de vida das espécies de Meloidogyne (Figura 2) é constituído de seis fases: ovo, juvenil de primeiro (J1), segundo (J2), terceiro (J3) e quarto (J4) estádios, e adultos (fêmea ou macho). O primeiro estádio juvenil, formado após a embriogênese, passa por uma ecdise ainda dentro do ovo e transforma-se no juvenil de segundo estádio. Após a eclosão, o J2 (estádio infectivo), o qual apresenta mobilidade, é atraído pela raiz da planta, adentrando próximo à zona de crescimento e migrando entre as células até alcançar o cilindro vascular (Abad et al., 2009; Carneiro et al., 2021).
Figura 2. Ciclo de vida do nematoide-das-galhas Meloidogyne spp.
A injeção de secreções leva ao aumento de tamanho (hipertrofia) de células, que por divisões sucessivas apenas do núcleo resultam nas chamadas células gigantes multinucleadas, constituindo-se o sítio de alimentação (Huang & Maggenti, 1969). O desbalanço hormonal provocado pelo nematoide (Figura 3) leva à multiplicação de células parenquimáticas do córtex e cilindro vascular (hiperplasia), geralmente acompanhada da expansão radicular com a formação de galhas (Moens et al., 2009).
Figura 3: Sintomas de galhas provocadas por Meloidogyne spp. em raízes de soja. Imagem: Jorge Bleno da Silva Verssiani.
Em uma publicação recente de Subbotin et al. (2021) são relatadas 98 espécies descritas dentro desse gênero. No Brasil, atualmente temos 21 espécies, sendo a última detecção parasitando arroz (Meloidogyne ottersoni).
Referências:
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